O desaparecimento do Trequartista no futebol de hoje!


Redigir Editar Html As disposições tácticas modernas como o 4-4-2, 4-3-3 e o 4-5-1 empregadas pela maior parte dos treinadores da nova vaga levaram à quase extinção do chamado “Trequartista”, ou jogador a solo. Trequartista, que no dicionário futebolístico italiano se refere à posição ocupada pelo chamado playmaker da equipa, que invariavelmente veste a camisa 10, é um jogador que actua na altura dos três quartos do campo, meio médio ofensivo, meio avançado, alternando situações de finalização com a construção de jogo.

Pela qualidade técnica, muitas vezes é igualmente conhecido por "Fantasista". A maior parte das equipas tende a usar um segundo avançado, posição que na minha opinião difere da ocupada pelo trequartista. Um segundo avançado é um jogador que ataca o espaço circunscrito à área desde terrenos um pouco mais recuados, se o compararmos com o avançado à moda antiga, e o seu objectivo maioritário é marcar golos, um pouco ao estilo do que faz Carlitos Tévez no Manchester City. Por outro lado, o trequartista, é o jogador que opera no “vazio” entre a defesa e o meio-campo da equipa contrária e tenta assim, usando esse espaço, criar situações de golo para os dianteiros e restante equipa

Exemplos dos dias modernos de um Trequartista são os de Cassano, Totti, Del Piero e Kaká (dos tempos do Milan) que são mestres nessa criação artística tão especial. Mas houve mais. Zidane numa fase da sua carreira foi um deles, e conta-se que Alex Ferguson perdeu a oportunidade de o ter porque, pura e simplesmente, não sabia que lugar dar ao francês no esquema táctico da turma de Old Trafford. A rígida visão dos treinadores britânicos faz com que assim seja, não lhe reservando um lugar nas suas equipas. A excepção terá acontecido quando se rendeu ao génio de Eric Cantona. Mas isso é outra história. Roberto Baggio é outro protótipo do trequartista que aqui vos falo, optando na maior parte das situações pela movimentação entre posições oferecidas pela oposição, aliás o melhor jogador do Mundo no principio dos anos 90 foi mesmo o expoente máximo do Trequartista no futebol mundial.Zola, Signori, Roberto Mancini e numa fase da carreira Crujff são outros dos exemplos do passado. Não estou, nem por um momento a duvidar que um sem número de avançados-interiores pode alternar com um trequartista (os exemplos podem incluir Cantona ou Bergkamp), mas invariavelmente, estes jogadores, jogaram no apoio ao ponta-de-lança quando pisaram terrenos de Sua Majestade.

Os argentinos referem-se ao trequartista como “enganche”, uma posição tornada famosa pelo seu Maradona. O meio-campo diamante que a selecção argentina emprega permite a presença do enganche, que é a base criativa de toda a equipa. O enganche actua como o elo de ligação entre o meio-campo e a linha da frente, sendo uma posição de culto para o povo e futebol argentino. O futebol de cortar a respiração que a Argentina apresentou em 2006, com Riquelme a jogar como enganche, é aquele que mais me vem à memória quando penso em esquemas da alviceleste na actualidade. Os espanhóis adoptaram um similar e impressionante no decorrer do último europeu, com o brilhante David Silva e a clarividência de Iniesta movendo-se desde os extremos do relvado para um espaço mais interior, entre o médio-centro e a defesa da equipa contrária, criando nesse processo espaço para os laterais, Ramos e Capdevilla, subirem pelos seus flancos. A Holanda fez uso do extraordinário talento de Sneijder dispondo-o como trequartista. Na minha opinião, a presença deste tipo de jogador não “queima” o resto dos colegas, como muitos treinadores aparentemente pensam. Olhem para a Espanha, mas sobretudo, para a Holanda de hoje.

A abstinência de um lugar para o trequartista na maior parte dos conjuntos da Premier League significou que talentos do tamanho de Zola fossem moldando a sua posição, o que culminou que nos seus últimos anos de Chelsea tenha sido mais um segundo avançado.  A Premier League, para toda a excitação que a competição gera, nunca teve capacidade para criar tácticas para a genialidade de alguns jogadores. Ferguson e Wenger, normalmente, usam dois avançados para servir de complemento aos quatro que atrás deles se posicionam. Apesar de todas as variações possíveis no meio-campo, é difícil jogar com um trequartista se o esquema usado no meio não for o de diamante, o que na Premier significaria a morte do extremo puro, algo altamente improvável na velha Albion. Mesmo para um criativo como Joe Cole, que Mourinho explorou e bem como 10, foi banido após a sua saída para um lugar solitário numa das alas.

O único treinador na Premier, agora no Inter, que tentou usar um trequartista numa base consistente, foi Benítez no Liverpool. Infelizmente para a equipa da cidade dos Beatles, a escolha recaiu em Gerrard, quando eu penso que Benayoun teria dado mais à equipa nessa posição. Voltando ao United, seria fantástico ver Rooney jogar como trequartista atrás do ponta-de-lança que por agora ainda falta ao clube inglês. Chicharito está na calha, mas ainda tem muito para crescer (e por onde). Penso que Ferguson ainda não encontrou a posição ideal para Rooney no relvado, ao contrário de Cappelo, que o usa um pouco atrás de Crouch na selecção inglesa.

O trequartista é mais que uma posição, mais que um jogador especifico para a função. É uma forma de arte, usada para pincelar os mais belos lances de futebol que existem.

Será o agora "livre" Cassano o último trequartista do futebol mundial? Estará o trequartista em extinção? Além do ex-Sampdoria que outros jogadores se enquadram no perfil do trequartista? E a nível nacional que jogadores portugueses correspondem ou corresponderam às características do Trequartista? Talvez João Pinto tenha mesmo sido um dos poucos, já que Deco e Rui Costa actuaram como médios ofensivos diferentes domezzapunta ou rifinitore


Texto de A.Borges

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