Santos show de 2010

Licença para relembrar. Imaginem o Santos de 2010 que foi campeão da Copa do Brasil enfrentando o Barcelona. Talvez o resultado seria o mesma, mas tenho certeza que o futebol demonstrado seria diferente. Qualquer semelhança com o Barcelona “original” de Xavi, Iniesta, Messi, Ibrahimovic e Pedro não é mera coincidência. A proposta é a mesma: atacar muito para afastar o oponente da própria área.

Permito-me usar de alguns parágrafos para explicar aquele santos, com vocês André NunesRocha:

“Era um time com cortes de cabelo “modernos”, as golas das camisas levantadas, entrevistas em tom irreverente, as danças nas comemorações dos muitos gols marcados e o estilo naturalmente abusado, alguns torcedores rivais menos xiitas e muitos analistas a adjetivarem o time da Vila Belmiro como “resgate do futebol moleque”, “Cirque du Soleil” ou, para os mais afoitos, a reedição do esquadrão que encantou o mundo nos anos 1960.

Para os mais ácidos e pragmáticos, o alvinegro praiano não passa de um time firuleiro, metido a bailarino e que ainda não venceu nada para ficar com toda essa “marra”.

Já quem olha para o campo e procura se ater apenas ao rendimento, abstraindo todo o resto, pode observar uma equipe que tem como principal característica a busca incessante do gol.”

Lembro-me como se fosse ontem o Santos de Dorival Junior. Era um futebol de encher os olhos, encantou o Brasil com futebol ofensivo, envolvente e de resultado. Dorival sempre armou times com vocação ofensiva, em 2010 não foi diferente, muitas goleadas, mas também gols sofridos e defesa contestada.


Alguns jargões do futebol caem como uma luva para exemplificar o Santos show de 2010: Ataca, mas deixa jogar. Por vezes a molecagem prejudicou, falta de marcação ou o clima de oba-oba, já ganhou. Um exemplo foi Grêmio x Santos no Olímpico, o time da vila levou a virada e por pouco não deixou a vaga escapar.

Atacava como poucos, mas defendia como muitos. Do meio para frente eram encantadores com toques refinados, aproximações entre meias e tudo que se pode imaginar de um futebol brasileiro. Volantes aparecendo para o jogo e auxiliando na saída de bola. Movimentação de Ganso, Robinho e Neymar era essencial. Mas nem tudo eram rosas, a defesa por vezes ficava desprotegida e o time dependia do ataque para vencer. Sustos aconteceram, e mais uma vez ficou provado que campeonato regional não é parâmetro para nada.

Time de cobertor curto. Tapa os pés, mas descobre a cabeça. Tapa a cabeça, mas descobre os pés. Era oito ou oitenta. Goleada já era normal, ir à vila Belmiro se tornou sinônimo de show por obrigação e dinheiro bem gasto. Quem viu, viu, este era o futebol arte do século 21.

Taticamente Dorival variava de 4-2-3-1 e 4-3-3 com triangulo de base alta e baixa no meio de campo. Ofensivamente o time se comporta com Paulo Henrique Ganso, e Robinho alternando pela direita e pelo centro para que Neymar brilhasse pela esquerda. A presença dos laterais ao campo de ataque era normal e alternada. Wesley e Arouca contribuíam para saída de bola qualificada e por vezes se aventuravam ao ataque.

Santos no 4-3-3, mas que poderia variar para o 4-2-3-1 com avanço de Ganso e recuo dos atacantes se tornando wingers.

Dorival Jr ocupa o campo ofensivo com incrível naturalidade. A facilidade para chegar às redes também impressiona, muito pela fúria de Neymar e André, os artilheiros santistas.

O goleiro Rafael apenas aparecia, não era afirmação. Felipe ainda tinha chances de baixo dos três paus. A linha de defesa era composta por quatro defensores. Questionado os dois zagueiros por erros, mas mal sabiam que o problema era cobertura e maior humildade ao defender. Laterais Léo e Para tinham vocação ofensiva, logo se desprendiam da primeira linha de defesa e apareciam no ataque.

Arouca era o primeiro volante, jogava mais centralizado e frente à zaga, não era ou é volante brucutu, mas sim de qualidade, se retinha mais a defesa para liberar Wesley. A maior “invenção” de Dorival foi recuar Wesley, o promissor e considerado “Novo Robinho” para segunda função do meio campo. Wesley se tornou um volante com passe, velocidade, combatividade e drible, foi uma espécie de motorzinho do time. Ganso podia atuar tanto mais a frente fazendo uma linha de três homens no meio campo, quanto mais recuada preenchendo um triângulo de base alta no meio. Meio de campo cerebral o camisa 10 classico. André deveria agradecer todos os dias por ter um garçom de qualidade o servindo. Ganso craque do time que acelera e desacelera o jogo com a maturidade dos seus 20 anos e facilita as jogadas com a simplicidade e a precisão dos antigos meias-armadores.

Robinho retornou a sua casa, vila Belmiro, se juntou a segunda geração dos meninos da vila, encantou e auxiliou, jogou mais a esquerda para deixar o promissor Neymar brilhar. Ele se tornou uma fera do futebol, Neymar, de promessa se tornou craque, gênio. Jogando aberto na esquerda já encantava críticos. André foi centroavante, mas não trombador e sim de qualidade e com auxilio. O quarteto ofensivo se entendia como poucos. Aproximações não deixavam André sozinho, troca de posições era constante, marcá-los era serviço que poucos conseguiram.

Molecagem na Vila Belmiro

Do meio para frente os jogadores eram de outra turma, estavam sempre um passo a frente que seus marcadores.

Com a bola, quem está mais aberto articula pela ponta, mas também penetra em diagonal para tabelar e fazer companhia a André na área.

Transição ofensiva era variada e com velocidade. Se a marcação complicasse não tinha problema um dos três: Ganso, Neymar ou Robinho. Recuavam para quebrar marcação adversária. Nada de lançamentos longos ou balões, o time jogava com bola no chão.

Na recomposição, o trio, independente da formação, dá o primeiro combate ao volante e aos laterais adversários. Normalmente era Robinho, o mais experiente, quem recuava em alguns momentos para preencher o meio-campo. Bola nas costas dos laterais era um problema já que os volantes ficavam sobrecarregados. O time atacava com muitos homens, mas defendia com poucos.

Sem comparações ao Santos de 2011 ou o que vem vindo de 2012. Muricy tornou o time mais objetivo e pratico. Arrumou o sistema defensivo e colocou taças no armário. O time da Vila Belmiro se tornou equilibrado, mas dependente de individualidades.

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