Vasco no hibrido 4-3-3 e 4-4-2 em duas linhas


A equipe cruzmaltina, em diversos momentos, nos surpreendia em sua aplicação tática e diverge de alguns conceitos impregnados no futebol brasileiro. Conceitos e paradigmas presentes em nossas entranhas, mas também, aterrorizados pelo terrorismo da imprensa perante treinadores “boleiros”. Não é de hoje que equipes tupiniquins apresentam variações, inovações e, para desavisados, são tratados como anomalias ou “Deuses do futebol”.

Não é de hoje que Cristovão Borges arma sua equipe em sistemas híbridos. No clássico contra o Fluminense não foi diferente. Eduardo Cecconi define estas variações, a grosso modo, as estratégias das equipes como “organismos vivos”, nas palavras de Cecconi a definição:

“Times de futebol são ORGANISMOS VIVOS. Uso essa expressão sem refletir muito se reunir “organismo” e “vivo” na mesma ideia não é pleonasmo. Enfim. Desta base, deste sistema identificado pelos posicionamentos iniciais de cada jogador, todos partem para se movimentar conforme os ensaios nos treinos. Formam-se as “pequenas sociedades”, os grupos que trabalham juntos, seja em coberturas sem a bola, seja em combinações sincronizadas com ela.
Os “organismos vivos” que são as equipes de futebol, e ajudaram a reiterar a importância da análise tática não apenas na identificação dos sistemas-base – o que é muito fácil de conseguir – mas principalmente dos movimentos”.

Os esquemas presentes neste emaranhado de organismos que ficam evidentes e presentes estão o 4-4-2 em duas linhas, em fase defensiva e, 4-3-3 em fase ofensiva.
O fator equilíbrio e termômetro para se tornar possível esta variação chama-se William Barbio. O camisa 44 fornece subsidio pelo lado direito ao fazer corredor pelo lado direito como um pendulo: sempre por este mesmo flanco, mas, ora avançando e compondo linha de ataque, ora defendendo e ate cobrindo passagem do lateral Auremir. 

Flagrante tático. Vasco postado em duas linhas em fase defensiva com Barbio formando linha defensiva e Auremir no meio campo.

O termômetro vascaíno não esbanja qualidade técnica. Barbio é esforçado e velocista, demorou para “entrar” no jogo, enquanto esteve nas nuvens o Vasco penou, quando pôs os pés no chão, o time da colina passou a dominar.

Em fase defensiva o Vasco formava duas linhas ao abandonar o 4-3-3 e assumir o 4-4-2 da seguinte maneira: Wendel abrindo e cobrindo o corredor esquerdo do campo, Nilton alinhando a Juninho, Barbio baixando para setor de meio campo e cobrindo o flanco direito.
A variação e possibilidade do Vasco aplicar este "organismo vivo" foi Barbio. Ora meio campista pela direita, ora ponta, definia o esquema a ser utilizado.

Flagrante tático. Vasco iniciando transição ofensiva no 4-4-2 em duas linhas.

Se tivesse de elencar um jogador como elo entre meio e ataque este seria Carlos Alberto, porém, o camisa 10 não assumiu a responsabilidade que carrega as costas. Carlos Alberto foi tímido e tornou um suspeito losango a um 4-3-3 longitudinal - setores distantes - e abusando de ligações diretas.
Losango? Sim. Claramente Carlos Alberto desprendia-se do flanco esquerdo, abria corredor para William Matheus e fazia diagonal e perambulava pelo centro, invariavelmente, ao lado de Alecsandro. Carlos Alberto destoou do triangulo de base alta formado por: Nilton no vértice, Juninho “solto” pela direita e Wendel “preso” pela esquerda. A distancia entre o camisa dez e os demais meio-campistas foi fundamental e atenuante para a nau vascaína afundar ou perder o rumo.

A posição livre de Juninho Pernambucano, defino como libero, pois, em fase ofensiva, o camisa "114" percorria as três posições do meio campo, sempre de encontra a bola e rodando por estes setores.

Flagrante tático. Vasco iniciando transição ofensiva. Equipe da colina saiu do 4-4-2 em duas linhas, Carlos Alberto rompendo losango - em amarelo - para formar o 4-3-3 - em preto. Obs: Juninho de encontro a bola.

Mesmo com Carlos Alberto abrindo corredor esquerdo para passagem do lateral, William Matheus não tinha companhia para triangular ou seja, criar pequenas sociedade, criar superioridade numérica sobre o lateral adversário. O Vasco pendeu para o lado direito com afinco. Auremir e Barbio pelos lados, Juninho e Carlos Alberto por dentro ocupavam este espaço e forçavam jogadas as costas de Carlinhos.
O contraveneno do Fluminense foi Carlinhos abusando das jogadas as costas de Barbio e dobradinha com winger presente pelo lado esquerdo. Inicialmente Barbio não “ascendeu”, perdia dividias e investidas contra o lateral, com o passar do tempo, Barbio se encontrou e equilibrou a partida. Nitidamente William Barbio foi o termômetro vascaíno na partida.

A estratégia de Cristovão Borges foi de esperar o adversário, oferecer campo ao Fluminense, oferecer posse e sair em velocidade no contra-ataque. A marcação era ao estilo retenção: jogadores atrás da linha da bola, mesmo que esta esteja próxima a grande área; marcação a zona e dobra por setores, esta dobra foi facilitada pela compactação das linhas e espelho entre elas, já que na fase defensiva o Vasco aplicou duas linhas.

Transição ofensiva, quando bola recuperada no seu campo e no posicionamento de retenção, foi com contra-ataque direto/acelerado – toques rápidos, longos e objetivos -, seja pelo goleiro Fernando Prass ou defensores. A titulo de curiosidade, a válvula de escape, em suma maioria, foi William Barbio.
Em fase defensiva o Vasco ficava postado no 4-4-2 em duas linhas, dois jogadores à frente para fazer pivô e puxar transições: Carlos Alberto e Alecsandro. A transição por meio do contra-ataque direto formava o 4-3-3 com o simples avanço de Barbio pelo corredor direito e Wendel retornando por dentro e formando triangulo de base alta ao lado de Juninho.

Quando o time da colina optou por rodar a bola não encontrou espaços. A velocidade de Barbio teve sucesso quando explorada vindo de trás e jogando sobre o lateral. Carlos Alberto não funcionava como homem de ligação, winger ou atacante de movimentação, a torcida chiou com razão.
A discrepância entre setores de meio e ataque prejudicou o time como um todo, naturalmente. Se o Vasco defendia compactado e em relação a bola, atacando, o time alongava-se, laterais passando sem ir ao fundo, atacantes restritos e inertes a marcação.

Se o primeiro tempo ficou marcado por um jogo de estudo e de meio campo, a segunda etapa foi elétrica e contagiante com ambos os times saindo para o jogo e contra-atacando, deixando espaços e marcado por individualidades. Tanto no primeiro quanto no segundo tempo, Dedé esteve impecável e sempre vigiando Fred. Em contrapartida, Thiago Neves se tornou estrela do clássico ao marcar dois gols na segunda etapa, o primeiro um golaço de voleio.

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1 Response to Vasco no hibrido 4-3-3 e 4-4-2 em duas linhas

  1. Tirânico says:

    Além de Vasco e Corinthians, alguma outra equipe brasileira faz marcação à zona?

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