O "clássico" 3-5-2 de Ney Franco


O embate deste domingo entre São Paulo e Flamengo fala por si só, dois grandes clubes do futebol brasileiro e duas peculiaridades, Dorival Junior assumindo o comando do Flamengo e Rogério Ceni voltando à meta do São Paulo.

O 3-5-2 implantado por Ney Franco ao São Paulo não chega ser cultural, mesmo que muitos julgam ser, discordo, este esquema tático possui grande relevância nos anos 2000 com Muricy Ramalho por se tornar vencedor.
Independente do esquema, um time precisa, obrigatoriamente, ter seu estilo, ou seja, o treinador definir sua estratégia de jogo e jogadores a executarem, parece simples, só parece.

Mera especulação. Juvenal Juvêncio, presidente do São Paulo, manda e desmanda no clube, nada de anormal, mas, admite dar “pitacos/instruções” ao treinador para o bem o time.
Ney Franco assumiu o São Paulo e logo determinou o losango como seu esquema, com o passar dos jogos, o 4-4-2 deu lugar ao 3-5-2.

É um 3-5-2? Sim, mas vamos dividi-lo em quatro linhas, pois Jadson não encaixa na segunda linha. Defendendo e atacando, o time mantém o 3-4-1-2, uma pequena variação aqui, outra ali, mas nada que possamos confirmar com clareza.

Flagrante tático. São Paulo postado no 3-4-1-2.

Não podemos esperar nada de inovador do esquema de Ney Franco. O 3-5-2, ainda mais o brasileiro, possui características claras e impossíveis de contrariar. A marcação é individual, o famoso, “cada um pega o seu”, tendo setores – meio e defesa – com sobra. O libero, Rafael Tolói, foi sobra dos zagueiros Rhodolfo e João Felipe, por vezes atuou como libero original – saindo de trás e compondo meio campo -, mas esporadicamente. Disse que este esquema não inovou em nada, quem sabe inventou, pois, o normal do 3-5-2 e jogar pelos flancos e com criação descentralizada - jogadas se articulam de forma coletiva, geralmente pelos lados -, porém, o tricolor demonstrou grandes dificuldades em articular e sair jogando pelos flancos.

Flagrante tático. São Paulo marcando individual por setor e Tolói a sobra como um pendulo entre defesa e meio campo.

A criação descentralizada beneficiou o estilo de jogo de Jadson. O numero “1”, não recuava para organizar, ate por suas características, tinha instruções de interagir com os avantes Ademilson e Luis Fabiano, por vezes, inverteu com Ademilson – Jadson no ataque e Ademilson no meio.
Com Jadson interagindo com homens de frente, o equipe do São Paulo sempre tinha, pelo menos, três homens no campo adversário. A presença dos alas era constante, mas de forma alternada. Atacar defendendo, este o lema de Ney Franco, pois o time mantém uma estrutura ao defender: três zagueiros, Denilson e ala que não apoiou. O equilíbrio fica evidente com cinco homens atacando e cinco defendendo.

Flagrante tático. Inversão entre Jádson e Ademilson.

Transição defensiva – momento, instante em que a posse de bola é perdida – é com jogadores mais próximos a bola marcando sob meia pressão – não dando o bote para abrir espaço – e garantindo que lado oposto à bola possa recompor e posicionar-se defensivamente. O intuito era de não levar contra-ataque.
Posicionamento defensivo com time recuado no campo de defesa ou em posição intermediaria e, basculando no sentido da bola, ou seja, ocupando e preenchendo o espaço com o maior numero de jogadores possíveis para equilibrar a “inferioridade” numérica no meio campo – sim, inferioridade, pois alas tinham carência na marcação e não apareciam por dentro. Lado em que a bola se encontrava marcava e fechava espaços, lado oposto recuava e fornecia balanço defensivo – aprontos quando adversário virava o jogo ou empurrando zagueiros para sobra.

Flagrante tático. São Paulo postado no 3-4-1-2 compacto e basculando do centro para direita e ocupando com superioridade numérica uma pequena parte do campo.

Marcação individual por setor e sempre por meia pressão, a não ser tridente de zagueiros que pressionavam quem estava com posse de bola. Alias, Rhodolfo-Tolói-João Felipe tinham “apenas” de marcar Vagner Love. A marcação ficou facilitada por ter apenas um homem, então, onde Love caísse, um dos zagueiros o marcava individualmente com dois jogadores na sobra, ou, um encostava em Love, outro no lado em que a jogada estava a desenrolar e o ultimo na sobra.

Curiosidade

Rogério Ceni ditava o ritmo do jogo quando a transição saía de seus pés, seja por recuo ou tiros de meta. O goleiro não quebrava a bola sem sentido, as lançava, mas nunca balão à frente. Além de lançamentos, o goleiro fazia 2x1 contra atacantes com seus zagueiros.

Capitão e treinador em campo. Rogério organizava seu time em campo e passava tranquilidade ao começar a transição com bola no chão.

Além de Ceni organizando, outra peculiaridade deste esquema. Alas centralizando o jogo e não usando a linha de fundo. Ora, dois alas de pés certos – destro na direita, canhoto na esquerda – não exploraram as flancos, ficaram sempre no mano com laterais e ainda assim preferiam o centro, esta decisão se complica pelo fato de ter dois atacantes de boa estatura na área.

A grande vitoria do São Paulo passou pelos pés de seus atacantes. A equipe de Dorival Junior não soube formar sobra defensiva contra os atacantes tricolores. Dorival preferiu que seus laterais batessem de frente contra os alas São Paulinos e assim os zagueiros ficavam mano-a-mano com atacantes. Deixar zagueiros no mano contra Luis Fabiano é falta de cautela ao extremo, Dorival pagou para ver e sofreu.

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1 Response to O "clássico" 3-5-2 de Ney Franco

  1. Muito bom, Eduardo! Parabéns!

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