A retranca pernambucana


Não me levem a mal ao descrever o estilo de jogo adotado pelo Sport no estádio Olímpico. Primar por se defender não é um defeito, muito pelo contrario, uma grande virtude. Já diz o ditado: “Bom ataques ganham jogos, boas defesas ganham campeonatos”.
Um exemplo claro de um time bem postado defensivamente é o Chelsea, o time inglês sagrou-se campeão contra o todo poderoso Barcelona propondo um estilo de jogo pouco atrativo, mas vencedor dentro das quatro linhas.

Vagner Mancini armou um verdadeiro ferrolho defensivo, de dar inveja às cortinas de ferro europeias. Vagner conseguiu um feito louvável, o treinador fez com que NOVE de seus DEZ homens de linha defendessem atrás da linha da bola, neutralizando o adversário e controlando suas investidas.

O esquema adotado pelo treinador foi outra peculiaridade. Não apenas do Sport, mas, se não foi todos, confesso que a maioria atua de uma maneira atacando e outra defendendo. A globalização atingindo o futebol. Com o Sport este fato não é diferente.
Após conversar com o analista de desempenho do Sport, Thiago Duarte, este mesmo me confidenciou que a equipe pernambucana atua entre dois esquemas: 4-3-2-1 e 4-3-1-2 dependendo de como o adversário esta postado. Vou mais alem. O Leão da Ilha agrupa jogadores em seu campo e parti do 4-3-2-1, mas ao encurtar o espaço do campo o esquema toma forma de 4-1-4-1 com meias alinhando-se aos volantes. 

Flagrante tático. Sport postado no 4-1-4-1. Reparem que Marquinhos Gabriel recua e passa da linha dos volantes quase alinhando-se a primeira linha defensiva.

Atacando o 4-3-1-2 toma forma, mas lembra muito o 4-3-3, pois Felipe Azevedo, prefere cair pelos flancos e Marquinhos Gabriel idem. Não a figura de um organizador central, um articulador. A equipe joga em constante transição. Ou seja, baixa o bloco para se defender antevendo uma saída rápida. Joga contra-atacando.

Flagrante tático. Sport postado no 4-3-1-2. Basculando para o lado em que a bola se encontra, time todo do centro para direita.

Naturalmente irei começar transcrevendo este Sport pela defesa. O time recua, agrupa jogadores em seu campo e reduz o campo de ação do adversário. A prioridade do time é fechar o centro do campo e povoar a faixa central. Há três jogadores que possui esta incumbência, o tripé de volantes: Tobi, primeiro volante postado entre as linhas, um típico “limpador de para-brisas”, camisa 5; Renan volante pelo lado esquerdo; Rithely volante pelo lado direito, do tripé, é quem tem maior liberdade para ir a frente. Estes três formam um ferrolho e guarnecem a entrada da área. Renan e Rithely perseguiam os meias Elano e Zé Roberto para não deixa-los criar, recuavam e avançavam não deixando os meias sozinhos, Tobi ficava na sobra.
Pelos lados do campo Felipe Azevedo e Marquinhos Gabriel recuavam acompanhando o lateral e não deixando seu companheiro no mano a mano. O único sem função defensiva era Gilberto, o centroavante recuava, mas pouco se esforçava.

Estilo de jogo do Sport era claro como as águas do Caribe. Deixar os zagueiros do Grêmio “criar”, ocupar espaços e sair no erro do tricolor.
Ofensivamente o Sport ficou devendo. O time “achou” um gol, mas não contava sofrer três. Claramente o time carece de maior poder de fogo. Para ter uma ideia da capacidade de criação do Sport: UMA bola alçada na área do Grêmio, apenas uma, mas com aproveitamento de 100%, pois nesta única oportunidade o Sport marcou.
O único centroavante do Sport teve péssima noite. Gilberto naufragou entre os zagueiros Vilson e Gilberto Silva, nada conseguiu ofensivamente.
O esquema com posse de bola era semelhante ao 4-3-3, pois Marquinhos e Felipe Azevedo avançavam pelos flancos e aproximavam-se a Gilberto.

Nas poucas vezes que foi a frente o Sport atacava com laterais apoiando alternadamente, o lateral do lado oposto basculava e formava sobre defensiva junto aos zagueiros, assim formava-se uma sobra defensiva.
Novamente a basculação. Para fechar espaços e não ceder espaço ao Grêmio, o Leão da Ilha basculava no sentido da bola. O time pendia para um lado, cercava a bola e diminuía o raio de ação do Grêmio.

Flagrante tático. Sport no 4-1-4-1 com time basculando do centro para esquerda.

Surpresa

Durante toda primeira etapa e inicio do segundo tempo o Sport conseguiu neutralizar o Grêmio com méritos. A marcação no campo defensivo, ocupação de espaços surtiu efeito e por pouco não aprontou no estádio Olímpico.

Qual a surpresa preparada por Luxemburgo a Vagner Mancini? Leandro. Um jovem atacante, cria do Grêmio. Luxa saiu do 4-2-2-2 e partiu para o 4-3-3 com triangulo de base alta. Com mudança de esquema, jogador de velocidade, o tricolor passou a ter vitoria pessoal para quebrar a marcação do Sport.

O abafa tricolor surtiu efeito. O time pernambucano não conseguiu seguras as pontas e cedeu. Felipe Azevedo já não auxiliava o setor de meio campo com tanto afinco e sobrecarregava um dos flancos. Aos poucos o Grêmio conseguiu furar o bloqueio defensivo armado por Vagner Mancini.
Aparentemente a defesa do Sport demonstrou carências ao se defrontar com jogadores dribladores, caso de Leandro e, surpreendentemente, Elano. Outra suposição é o desgaste físico. A equipe de Vagner Mancini passou os 90 minutos correndo atrás da bola, não havia retenção ofensiva. É de conhecimento geral que, quem possui a bola corre menos.

O Sport me surpreendeu defensivamente, porém, ofensivamente ficou devendo. O 4-1-4-1 surpreendeu a todos pela capacidade de jogadores versáteis e comprando a ideia do treinador. Ao Sport falta organizar seus movimentos ofensivos, quem sabe com: Felipe Menezes, Cicinho e Hugo o time crie alternativas.

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2 Responses to A retranca pernambucana

  1. "Estilo de jogo do Sport era claro como as águas do Caribe. Deixar os zagueiros do Grêmio “criar”, ocupar espaços e sair no erro do tricolor."

    Dito isso, não entendo a surpresa com os três gols sofridos pelo Sport. Times que se postam na retranca perdem os jogos com muita frequência geralmente por uma boa diferença de gols.

    Acho um grande erro esse "efeito Chelsea" no futebol brasileiro. Não só o Sport, mas também o Fluminense tem recorrido a esse 4-1-4-1 de caráter totalmente defensivo. E outras equipes, geralmente.

    Poxa... estamos na era de Guardiola... está claro que a melhor estratégia, tanto pra se defender (especialmente pra se defender, eu diria) quanto pra atacar é manter a posse de bola, fazer muitos passes durante a partida e controlar o 'Tempo'. Estamos na era do futebol de posse de bola.

    É claro que, (quase) da mesma forma que o Chelsea era extremamente inferior tecnicamente ao Barcelona de Guardiola, o Sport sendo bem inferior ao Grêmio e ainda jogando no olímpico, nesta situação, a opção por um time mais recuado pode parece apropriada. Mas, se os times querem ser vitoriosos, ao olhar para aquele Barça x Chelsea, tem que se inspirar no Barça; aquela eliminação foi uma fatalidade do acaso; aconteceria 1 vez em cada 10 disputas entre as duas equipes.

    Pra não ser injusto, não estou desprezando o futebol de contra-ataques. Mas, só pra dar um exemplo de peso, até Mourinho, que eu considero o grande contragolpista do futebol mundial, se adaptou ao futebol de posse de bola. No Real Madrid, optou pelo 4-2-3-1 e tem uma marcação bem mais adiantada e tem mantido boa posse de bola; e isso não impediu que o time jogasse em transições rápidas, pelos flancos, e com uma defesa sólido; ao contrário, creio que esse é o melhor time de Mourinho na sua carreira.

    Pra resumir, o que eu quero dizer é que os times devem olhar pra Espanha: aprender a contraatacar com Mourinho e a jogar com a posse de bola com Guardiola. Esse Chelsea campeão da Champions tem que ter sua importância diminuída. Foi um daqueles momentos espetaculares do futebol, onde o acaso escolheu alguém pra ajudar.



    A propósito, gosto muito do blog. Não costumo comentar, mas sempre leio os textos. Abraço!

  2. Edu says:

    Concordo em gênero, numero e grau. O futebol brasileiro vive um complexo de personalidade. Perdemos nossa “cara”. Os grandes culpados são treinadores e administrações amadoras. Pegando os dois exemplos que citaste:

    - Barcelona: possui uma filosofia desde Cuyff. Todos os treinadores contratados de alguma maneira casam com a proposta, historia do clube.
    Acontecer isto no Brasil? Não chego a ser radical e dizer que é necessário copiar o Barcelona, mas olhar minuciosamente as categorias de base do clube catalão. O velho ditado é perfeitamente cabível ao Barça: “Craque se faz em casa”.
    As categorias de base do Brasil estão sucateadas, passando essencialmente pelas administrações amadoras.

    Mourinho: Esse é fascinante. Um treinador que ama o que faz e procura sempre estar atualizado. Não bastasse isto, “vivia” dentro da Universidade do Porto, é mestre em futebol. Quais de nosssos treinadores possuem embasamento teórico para treinar? Um exemplo: treinadores italianos e alemães precisam tirar uma carta para treinar clubes de série A. Aqui no Brasil qualquer ex-jogador pode treinar. Uma vergonha.
    Não somente Mourinho, mas o próprio Guardiola foi a Argentina procurar entender o estilo de jogo de Bielsa e outros para executar de melhor forma o futebol que por ele é entendido "vencedor", para Guardiola vencer não é apenas conquistar três pontos.

    Ressalto que estamos evoluindo no quesito defender. É inegável ver que o Sport conseguiu fazer com que NOVE de seus DEZ jogadores de linha marcavam. Faltou qualidade, treino, variações, diversidade de modelos ao atacar.
    Quanto ao Fluminense, acho valido o 4-1-4-1 em fase defensiva, pois Deco pouco contribui defendendo. Basta adiantar as linhas para marcar mais a frente e TREINAR EM CAMPO REDUZIDO MANEIRAS DE PRESSIONAR O ADVERSARIO.

    Esta é uma carência do treinador brasileiro. Não se treina, os treinadores apenas passam COLETIVOS. Falta atualização e, novamente, se basear em algo com referencias.

    Outro exemplo é o Bilbao do Bielsa. Ou o Chile e Argentina desde mesmo treinador em outrora. Nas seleções o treinador conseguiu impor seu estilo de jogo com pouco tempo. No Bilbao foi ainda mais incrível. Implantou sua proposta com rigor e chamou atenção do mundo.

    O segredo é reformular nossas maneiras de treinar, administrar e “esperar” por uma nova formada de treinadores.

    Agradeço por estar contribuindo ao blog. Concordo em tudo, parabéns pela excelente visão. Abraço.

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