A estreia de Fernandão no comando do Internacional



Uma nova perspectiva ao Internacional. Uma bruta mudança no comando técnico. Sai o “ofensivista” Dorival Junior e sua comissão técnica. Entra o ídolo Fernadão, o novo técnico abandonou a cartola e agora comanda o time a beira do gramado. Fernandão já da pistas de como será seu estilo e proposta de jogo, ele garante estar baseado em seus antigos treinadores: Abel Braga, Muricy Ramalho e Alain Perrin, com quem trabalhou no Olympique de Marselha.  Fernandão ainda cita duas referencias internacionais: o português AndréVillas-Boas que, despontou no Porto e, Leonardo, que, no Milan, fez carreira como jogador, diretor e treinador.

Fernandão quer resgatar o estilo de jogo do próprio Inter que ficou perdido pós Mundial de 2006: a marcação sob-pressão e um time com saídas rápidas ao ataque.
O ídolo e agora treinador cita o que esperar de sua equipe dentro das quatro linhas:

- Tenho a vantagem de conhecer o estilo gaucho. Sei como a torcida gosta do time atuando, Quero um time marcando forte e partindo para frente, que faça a torcida assistir ao jogo de pé. – assegurou Fernandão ao jornal Zero Hora.

É um novo Inter em campo. Ao observar a escalação colorada fica notável que Fernandão prima por um time que saiba defender. Nada de surpreendente após o treinador citar suas referencias e espelhos a seguir em seu novo desafio. A escola de Fernandão é formada por bons treinadores com características claras e facilmente esmiuçadas: Muricy Ramalho presa por um time que saiba defender, atacar é colocado em segundo plano, espero que Fernandão absorva qualidades defensivas de Muricy; Abel Braga é ofensivo de carteirinha e comandou o principal triunfo colorado com Fernandão de jogador; Alain Perrin, treinador formador de grupos e com sucesso ao levar clube da terceira divisão para elite do futebol francês.

Antes da bola rolar, Fernandão já havia dito como sua equipe iria se posicionar defensivamente:

- Atacantes recompondo menos, por isso escalação dos três volantes. Volantes darão mais liberdade para laterais apoiarem.

De fato o Inter jogou desta forma, não somente com laterais soltos, mas também com os próprios volantes aparecendo à frente. Comprovado também a maneira do Inter defender ao deixar o Atlético trocar passes e marcar quando o adversário passava da linha de meio campo.

Fernandão utilizou o 4-4-2 losango em sua primeira partida. Decifrando o losango: Primeira linha de defesa formada por quatro jogadores – dois zagueiros e dois laterais; Ygor como primeiro vértice deste losango; Guiñazu e Elton os “carrilleros” pelos lados; Fred ponta de lanço; no ataque Jajá e Dagoberto.
Fred como ponta-de-lança, naturalmente, não foi articulador, mas sim um meia que aproxima dos atacantes e flutua caindo pelos lados, o Inter atuou com criação descentralizada, ou seja, as jogadas se articulam de forma coletiva, geralmente pelos lados – na esquerda, com Fabricio, Guiñazu e Jajá; e na direita com Edson Ratinho – esporadicamente – , Elton e Fred.

Flagrante tático. Inter no 4-4-2 losango.

Clássico do losango, os volantes-meias pelos lados precisam ser versáteis, pois, quando necessário, recuam alinhando-se ao primeiro volante do vértice e, atacando, ultrapassam o “enganche” do time. Guiñazu e Elton cumpriram esta função que lhes foi dada. Em diversas oportunidades os carrilleros estiveram à frente, um exemplo claro foi o gol de Elton: Dagoberto saiu da área, abriu espaço, Elton avançou, adentrou na grande área, recebeu lançamento e chutou na saída do goleiro.

Sem ter um criador nato o Inter penou na primeira etapa. Triangulações eram formadas com o avanço do lateral, volante-meia passando por dentro e , Jajá ou Fred fechando. O problema era que Jajá ao recuar pela esquerda isolava Dagoberto pelo centro. Alem disto, o Inter viciou na esquerda e, como se fosse um movimento natural, os três jogadores ocupam a mesma faixa de campo, assim, impossibilitando ou dificultando avanços.
Alias, Jajá durante primeiro tempo foi um “doble enganche”, pois, Fred pendia mais a direita e Jajá fechava pela esquerda. Para não deixar Dagoberto “solito”, Fernandão puxou Fred para esquerda e devolveu Jajá a seu habitat natural.

Flagrante tático. Triangulação habitual do losango pela direita.



Flagrante tático. Triangulação de maior presença pela esquerda.

Transição ofensiva com inicio desde o campo defensiva começa por tripé de volantes, estes ditam o ritmo da partida. Fred o ponta-de-lança, não recua para organizar, destoa do losango e aproxima dos atacantes. 
Em posicionamento ofensivo o Inter adianta suas linhas, agrupa jogadores no campo do adversário e passa a jogar pelos flancos do campo. A passagem do lateral e dobradinha com volante, torna o Inter ofensivo, porém, mesmo adiantando as linhas, os zagueiros não aproximam do meio campo e deixam um espaço entre meio-defesa, este vazio dificulta a recomposição, já que o Inter, em boa parte do jogo, preferiu recuar e agrupar ao invés de marcar a frente.

Novamente, em posicionamento ofensivo, o Inter trabalhou com sobra perante os dois atacantes do Atlético. Quando um lateral passava, o outro recuava e formava sobra defensiva com os zagueiros: lateral - sobra - zagueiro. A frente da sobra defensiva ficava o volante Ygor que, inicialmente defendia pelo centro, mas, dependendo da necessidade, cobria e pendia aos flancos.

Flagrante tático. Inter no 4-4-2 losango basculando para esquerda e formando sobra defensiva.

Inter penou no primeiro tempo pelo excesso de passes errados e ocupação de espaços  de forma equivocada. Não há como qualquer equipe brilhar com passes errados em demasia. Algo tinha de ser feito para dar outra cara ao Inter na segunda etapa, Fernandão não titubeou e mudou.

O dedo de Fernandão

Retratação: Estou tendo a oportunidade me profissionalizar como treinador de futebol e, neste oportunidade, tenho como colega Fernandão, atual treinador do Inter.
Me valendo desta oportunidade e tendo uma duvida, pude pergunta-lo qual era o esquema do segundo tempo contra o Atlético. O mesmo me confidenciou que manteve o losango, mas liberando o Fred e, jogando com o meia mais próximo do ataque do que da defesa.
Portanto, faço minha retificação, o Inter não jogou em duas linhas. Fernandão me explicou também que Otavio recuava fechando passagem do lateral, mas não mantinha posicionamento de meia pelo lado.


Com primeiro tempo discreto e empate imperante frente ao lanterna do campeonato brasileiro, Fernandão resolveu mudar logo no intervalo. Fernandão manteve o esquema, Osvaldo em campo e Inter com maior presença ofensiva.

Ao colocar Osvaldo, Fernandão tirou o apagado Edson Ratinho. Ressalto que este lateral direito pouco foi à frente e, consequentemente, Inter pendia para o lado esquerdo, além disto, a boa participação de Elton no primeiro tempo forçou uma mudança mais "radical".
Com mudança Elton passou a ser o lateral direito. Uma clara e evidente resposta ao ofensivo Eron que jogava sempre as costas de Ratinho e causando problemas ao setor defensivo. 

Flagrante tático. Inter postado em duas linhas de quatro com Fred recuando e auxiliando Elton no combate.

Fred compos meio campo como carrillero pelo lado direito, recuava com afinco e se tornava um segundo lateral pela direita, auxiliando Elton no combate e, agora ele, Fred, atacando e comparecendo as costas de Eron. Guiñazu ficava mais plantado para dar maior liberdade a Fred avançar. O gringo garantia o avanço de Fred sem comprometer o sistema defensivo.
Portanto, o 4-4-2 losango foi mantido.

Flagrante tático. Inter no 4-4-2 losango com Bolivar saindo a caça e Índio na sobra.

O dedo de Fernandão foi como passe de mágica. Antes de qualquer analise, o Inter já marcava o 2x1. Fabrício em jogada de profundidade cruzou para Dagoberto, antecipar e marcar.
Além de, melhorar seu setor defensivo, o Inter passou a lidar melhor com as movimentações ofensivas com esta nova formação.
Quem precisava do empate era o Atletico-GO e este foi a frente, mas deixava espaços para contragolpes e, Fred, espertamente armou um belo contra-ataque, lançou Jájá e este marcou.

O time goiano foi para o tudo ou nada. Empilhou jogadores de frente, cedeu ainda mais espaços ao Inter e, inevitavelmente, levou o quarto gol que selou a goleada colorada. Fred fez fila na defesa do Atlético, entrou na área e finalizou no canto do goleiro, sem chances. O ultimo prego do caixão estava pregada.

Fernandão estreou com vitoria contundente. O primeiro passo foi dado, com o pé direito e convencendo seu torcedor que a escolha por Fernandão foi coerente.

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