O atacante estuda o zagueiro?


É de conhecimento geral que defensores estudam seus adversários minuciosamente, mas me pergunto se o contrario acontece, será que atacantes e meias estudam seus adversários? A resposta me parece que não, mesmo que toda regra tenha sua exceção.

Um exemplo claro é o pênalti. É obvio que o goleiro estuda todos batedores antecipadamente para uma eventual decisão por pênaltis ou possível infração durante os 90 minutos. O guarda redes decora a passada do cobrador, a forma que o pé de apoio fica no gramado, como a bola é posicionada – com ventil para frente, lado ou trás – e, finalmente, o lado de preferência. Todo cobrador possui um lado em que julga mais fácil acertar. Mas será que este mesmo cobrador estuda o goleiro? Sim, há como estudar o goleiro. Antecipo que é fácil ler os movimentos do goleiro. Primeiro: Antecipação, o goleiro se antecipa na corrida para a bola ou espera ate o ultimo momento? Segundo: Adianta, ainda mais fácil, só contar os passos após batida. Terceiro: Preferência por botes baixos ou altos.
Enfim... Ha maneiras, basta estuda-las e de melhor forma por em pratica.

Se não ficou claro o exemplo acima, uso outro ainda mais evidente.
França de Blanc armou toda uma estrutura para frear o ímpeto Espanhol pela esquerda. O que fez Blanc? Acomodou dois laterais em uma mesma faixa de campo quando a equipe estava sem bola e em posicionamento defensivo. A distancia entre os dois era mínima, uma sobreposição de laterais. Ambos jogavam próximos e com perseguições a Iniesta e Alba, respectivamente.
Se não fosse por um lance, a estratégia seria cumprida com sucesso, mas a movimentação, velocidade e inteligência espanhola “caotizou” esta proposta.

Flagrante tático. Blanc armou esquema para frear o impeto espanhol com dois laterais: Reveillere e Debuchy.

Será que treinadores e atacantes não podem trabalhar em conjunto para descobrir possíveis soluções e sair da marcação de seus adversários?
Um dos maiores problemas é a soberba dos atacantes sobre zagueiros. Estes acreditam que sua qualidade ira imperar sobre qualquer beque brucutu. É preciso descer do pedestal e olhar para os trabalhadores menos agraciados com humildade.

Um grupo seleto de bons jogadores me chama atenção por se entregarem com facilidade a marcação, alguns com similaridade. Exemplos: Ronaldinho e Neymar no cantinho esquerdo; Robben e a infiltração da direita para o centro; Ganso inerte a marcação pelo centro.
Não resta duvidas que estes jogadores possuam enorme qualidade, mas em certas partidas se entregam a marcação e seu repertorio antes vasto e ilimitado, torna-se comum.

Aparentemente Ronaldinho esta encontrando um novo espaço, se remodernizando. Cuca encontrou um novo palmo de chão para Ronaldo, o centro do campo. O Atlético montou um aparato por inteiro para Ronaldo desfilar um bom futebol. O esquema de jogo possui jogadores de velocidade para explorarem os lançamentos e, solícitos ao defender perante inércia do craque.

Flagrante tático. Ronaldinho atuando pelo centro do 4-2-3-1.

Robben e Neymar precisam se redescobrir em campo. Ambos possuem bom repertorio de jogadas, são imprevisíveis com bola nos pés. Mas, nos últimos jogos ficaram devendo. O Holandês naufragou junto à Holanda pela Eurocopa. Neymar sucumbiu perante marcação de Velez e Corinthians, o Santos que se demonstrava dependente de Neymar, mostrou ainda mais suas deficiências ao velo marcado.
Robben e Neymar poderiam ser gêmeos em sua maneira de jogar, diferem apenas na perna “boa” e lado em que jogam. Ambos jogam em velocidade, partem para cima do defensor e, previsivelmente, ingressam para dentro da área e finalizar. Antecipo que não é fácil marca-los, mas é possível e já foi demonstrado neste ano.

Flagrante tático. Robben como winger pela direita. Foto de: Rai Monteiro.

Paulo Henrique Ganso. Este é uma incógnita por inteiro. Não joga por suas limitações físicas? Afinal passou por duas graves lesões de joelho. Baixo rendimento se deve a insatisfação perante montante depositado todo dia 5 em sua conta? Ou, apenas joga futebol como lhe passaram e como foi aprendido? O certo é que pelo centro e com marcação individual o camisa 10 se entrega de corpo e alma e, simplesmente, desaparece do campo, toma forma de gasparzinho.

Outra duvida que se impôs. Será que a fase mágica de Leandro Damião passou? É evidente que sua lesão e parada durante alguns meses não beneficiaram em nada seu futebol. Mas acredito que o principal fator foi sua brilhante fase, isso mesmo. Antes Leandro Damião era um desconhecido, não havia marcação diferenciada. Agora, após ser goleador e o DONO da camisa 9 na seleção, tudo mudou. O zagueiro pensa duas vezes em dar o bote em Damião, sempre havia alguém na sobra.
Portanto, Damião não deixou de ser um bom centroavante, o que mudou foi à atenção dada ao mesmo. Não existe mais bobo no futebol, a globalização fornece informação a todos.


Exemplo que, sim, é possível ainda ter esperança?
Clássico entre Brasil x Argentina. Imprensa argentina divulgando que Sabella armaria um sistema defensivo todo voltado para frear Neymar. De fato aconteceu. Sabella pôs Zabaleta e Clemente de pés trocados – destro na esquerda e canhoto na direita – para dar o fundo a Neymar e Hulk. Mano Menezes sabiamente escalou Neymar por dentro, as costas dos volantes e, Hulk, pela esquerda, jogando assim de pé certo e buscando o fundo.
Foi Mano quem armou, mas os jogadores executaram e tenho certeza que Mano os chamou para analisar junto como os laterais argentinos jogavam e assim tentar fugir do ferrolho armado por Sabella.

Flagrante tático. Neymar atuando pelo centro do 4-4-2 losango.

Um fio de esperança.
Grêmio x Figueirense, partida valida pelo campeonato brasileiro de 2011. O confronto entre Wellington Nem e Gilberto Silva, estou sendo bom com Gilberto, pois isto foi mais um baile do garoto sobre o veterano, se preferirem, um trote universitário ao contrario.
Gilberto Silva atuou como zagueiro deslocado pela esquerda, Jorginho colocou  Wellington Nem para jogar aberto pela direita de ataque e sempre indo a linha de fundo. O veloz garoto sempre obteve vitoria pessoal sobre Gilberto. Toda santa vez que Gilberto estava para dar o bote em Wellington Nem, o zagueiro precisava enquadrar o corpo para desarma-lo com a perna direita, um cacoete do “zagueiro” e falha por não saber desarmar com a esquerda. Resultado? Se fizessem um Raio-X da coluna de Gilberto, certamente ela estaria torta pelos dribles sofridos.
O garoto passeou no Olímpico. Deitou e rolou sobre Gilberto Silva, em lance do gol, deixou o zagueiro de bunda no chão e marcou belo gol em Victor.

Formas para que o atacante estude o zagueiro temos aos bocados. Exemplos: velocidade do zagueiro; altura; se é destro e joga na esquerda ou vice-versa; se espera para dar o bote ou tenta logo desarmar. Estas são apenas algumas formas e, novamente reforço, é preciso descer do pedestal e ler o adversário, esmiuçar as defeitos do adversário.

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