A dependência brasileira pelo Camisa 10/ Homem de criação e homem da sobra

Neste texto vou abordar dois fatos históricos do futebol brasileiro: a nossa clara e evidente dependência pelo Camisa 10 ou meia de criação;  homem da sobra que gera segurança ao setor defensivo. É claro que estas duas posições já se tornaram regra de nosso futebol, ou, integram a escola brasileira.

Estes dois jogadores são vistos desde os clubes de menor expressão aos grandes do nosso futebol. É quase que passado de pai para filho, de geração em geração. No caso, de clube para clube.

Acredito que esta dependência possui uma explicação. Formação de jogadores e treinadores. Não há como negar que alguns de nossos treinadores possuem pouco conhecimento efetivo de futebol, não basta ser jogador para se tornar treinador. Por outro lado, o jogador é fixado a jogar de uma maneira nas categorias de base, não existe vivencias em outras posições, ele é “criado” para uma determinada posição e perdurará por ali.

Relembrando um pouco de nossa historia. Getulio Vargas na década de 60 e 70 implantou no Brasil o modo de ensino tecnicista. Uma maneira de “criar” um operário focado para apenas uma função. Sesc e Senai foram suas “obras”. Na época para enriquecer e ter mão de obra “caseira” a solução foi interessante, mas era preciso evoluir. 

O empregado cursava Sesc/Senai e se formava apenas focado em uma área. Trabalharia o resto de sua vida somente no que aprendeu, não tinha motivação para saber mais, crescer e desempenhar outras funções.

Um exemplo cômico é o filme de Charles Chaplin, em que o ator possui apenas uma tarefa, apertar parafusos. 

Hoje não se admite um funcionário que só saiba apertar um parafuso e nada mais. É preciso se aplicar em múltiplas funções.

A historia da educação brasileira nos remete a escola brasileira de futebol. A grande diferença é que evoluímos na maneira de ensinar, mas pouco em relação ao futebol. O mercado de trabalho exigiu mais de seus funcionários, ou seja, melhor qualidade na formação. O futebol avança a passo de tartaruga, é preciso de uma revolução para nos abrir os olhos. A exigência no futebol vem por etapas: Técnica, física, tática. Este o grande erro, não há um conjunto, assim se torna complicado “criar” bons profissionais.

É inadmissível que nossos jogadores ainda possuam posições pré-determinadas e se prendam a elas. Não estou pregando que devemos “copiar” o modelo europeu, ou, sul-americano, apenas não podemos fechar os olhos para evolução mundial.

Se até a China que se diz socialista, mas cada dia que passa se mostra mais capitalista, abriu suas portas para o mercado internacional, porque o País do Futebol não pode aprender com os outros?

Sem mais rodeios.

Perante este histórico método de formar jogadores, nos acostumamos há um organizador e homem da sobra. Quando ele não se encontra em campo, parece que a equipe esta perdida e consequentemente a derrota é iminente.

Homem da criação: Todo um sistema é adaptado para ele estar em campo. É ele quem organiza a equipe e/ou cria situações para o time. Joga aonde e como quer, mas cumprir funções defensivas já é pedir demais. Com ele em campo o passe sempre passa por seu pé, organização centralizada e dependente deste único jogador. Na Itália temos o regista – um organizador mais recuado, mas que cumpre funções defensivas, exemplo: Pirlo.

Homem da sobra: Parece inacreditável, mas o brasileiro conseguiu adaptar um esquema, para pior, só para escalar o homem da sobra. O esquema em questão é o 3-5-2, na Europa com libero, avançando e se tornando homem surpresa, no Brasil apenas cumpre funções defensivas. Este jogador geralmente é rápido e se encontra a alguns passos atrás do seu companheiro de zaga.

Não estou decretando que estes jogadores devem ser exilados, ou não devem mais ter espaço nos times. Apenas acredito que existam outras formas de jogar, eles permeiam o futebol brasileiro, devem seguir, mas um leque de opções deve existir.

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2 Responses to A dependência brasileira pelo Camisa 10/ Homem de criação e homem da sobra

  1. Gladio says:

    É visível como neste esporte coletivo, no Brasil, impere a individualidade. É possível ter o homem da criação, o sobra. Mas devemos intensificar em táticas e pratica-las. Hoje é valorizada a posse de bola e ainda existe seleções com o goleiro "sorteando" a bola no meio de campo. O capitão tem que ser o homem que, durante o jogo, se aproxima do técnico e repassa aos jogadores novas informações. Hoje são eleitos atacantes, que não volta para organizar a defesa ou goleiros, que não tem como redirecionar o ataque. Logo, penso que o ideal seria o capitão ser sempre algum jogador do meio, lateral que possa ouvir o técnico e reorganizar a equipe qdo necessário, pode ser até o homem da criação que com um sinal, indica a jogada (duvido que exista). No mais, é lamentável que as equipes dependam de um jogador, porque falamos em equipes... e nesta deve haver sinergia, sincronismo, coletividade de todo o grupo.

  2. Giovane says:

    Concordo plenamente Eduardo, um exemplo que eu acho clásssico, é a falta de utilização do 4-4-2 britanico aqui no Brasil tudo por culpa de não ter um articulador central. Sendo que esse esquema é um dos mais completos, ao meu ver.

    Outra coisa que me irrita, é articulador central que não sabe fazer outra função. Ganso por exemplo, fantástico na articulação central, porém precisa de um esquema inteiro para favorecer seu futebol, não vejo nele um potencial para jogar de winger, segundo volante ou segundo atacante.

    Agora pegue um Barcelona da vida. Xavi, Iniesta, Messi, Thiago Alcantara, Fábregas... todos sabem fazer praticamente todas as funções do meio para frente, o que facilita a articulação do time.



    Para finalizar, mais uma vez o parabenizo por mais uma bélíssima coluna, continue assim e um forte abraço para ti.

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