I
O drible está para o futebol assim como a poesia está para a prosa.
Neymar e Messi estão na moda, portanto, o drible. O primeiro improvisa com o movimento das pernas, passadas, velocidade, o que não consegue improvisar com tanta facilidade quando fala, quando articula prosear com a imprensa, com o público. Vender imagem com imagem, somente, não com palavras. O segundo está mais próximo de Garrincha, de Maradona; ambiciono misturá-lo com ambos. A repetição de lances imarcáveis do primeiro, o toque de genialidade, surpresa, acaso, do segundo.
III
Um lance de dribles é uma explosão de acasos.
IV
A poesia carrega a abstração, a curva, a melodia dos versos, o drible:
As pernas entrelaçam-se umas nas outras, um corpo só, membros em pura vibração. O vento confunde-se com a velocidade distinta. Os olhos revezam-se entre os olhos do adversário e os movimentos imprecisos da esfera. Todos os olhos ao redor, pela tevê, até os olhos dos ouvidos nos rádios – os olhos da imaginação –, todos atentos a ação que se forma imprevisível; e quando todos olham para um lado, a esfera vai pro outro, o corpo para um terceiro, e assim o triângulo está formado: o drible.