Como Ganso pode se reinventar no São Paulo? Que honre a camisa 8

Novela Ganso chega ao fim. São Paulo e Santos chegaram a comum acordo, o clube da capital depositou um montante beirando os vinte e quatro milhões de reais na conta do alvinegro praiano.

Uma fato curioso em sua apresentação foi que, antes camisa 10 no Santos, agora Ganso é camisa 8 no São Paulo. O fato pode ser apenas um acaso. Mas, se esmiuçado, pode nos levar a um questionamento. Ganso pode ser um legitimo camisa 8?

O atual cenário do futebol, em relação a números, é uma miscelânea que, nem de longe, é semelhante à outrora.
Numeração fixa é novidade em campos tupiniquins tendo como objetivo alavancar venda de camisas.
Há algumas décadas os números de 1 a 11 eram restritos a jogadores titulares e, cada numero tinha sua respectiva posição e função. Exemplo: Camisa 5, legitimo cão de guarda, posta-se a frente da defesa e tinha função de marcar indeliberadamente; Camisa 10, meia de criação, toda e qualquer jogada deve passar por seus pés, no Brasil, joga centralizado.

Ganso demonstra camisa oito do São Paulo.

O camisa oito possui peculiaridades. Seguindo a lógica e historia, não sequencia, o oito seria um segundo volante clássico, com liberdade para apoiar e obrigação de defender. Atualmente, em debates, o camisa 8 é citado para se referir a um terceiro homem de meio campo cuja função é: Quando utilizado no sistema 4-4-2 quadrado, o terceiro homem de meio campo é mais ofensivo do que defensivo, mas, possui envergadura para auxiliar o sistema defensivo, faz espécie de pendulo entre meio e ataque e deixa criação com o camisa 10.

Ganso pode ser um camisa oito? Difícil, teria de se reinventar. Momentaneamente não, mas, futuramente, sim.
A quimera desejada por analistas, é que Ganso torne-se um Pirlo. Clássico regista. Jogador que articula nas primeiras zonas do campo, afinal, o jogo parte vindo de trás e não o contrario. Porém, esbarramos em alguns muros “psicológicos”. (?)
Por formação, Ganso é um clássico camisa 10 brasileiro. Atua, restritamente, com bola nos pés, centralizado. Sua movimentação é ditada apenas dos três quartos do campo para frente. Recompor ou auxiliar em fase defensiva? “Craque não precisa”. Por estas e outras Ganso se tornou vitima do futebol moderno, pois não há campo, sequer palmo de terra, para jogar seu futebol arcaico, obsoleto e digno de anos dourados, mas impraticável nos dias de hoje.

Ganso como regista? Uma odisseia digna de Homero. Os vícios do jogador estão presentes e combatê-los não será uma fácil tarefa. A instrução viria de seus treinadores, pois é necessária uma mentalidade “jovial” em nível futebolístico e, principalmente, Ganso acatar e analisar que seu futebol é decadente.

Abaixo alguns diagramas táticos. Sim! Eles podem ser considerados utópicos, exercícios de imaginação.

4-2-3-1 provável

Diagrama tático. 4-2-3-1 com maior probabilidade de ser usado.

Sem grandes alterações. 4-2-3-1 utilizado atualmente. Ganso executaria função semelhante quando no Santos. Centralizado, sendo o homem da criação. Jadson seria deslocado para esquerda. Lucas o extremo pela direita.

Um principio é básico no 4-2-3-1:movimentação. O tridente de meio-campistas é essencial para o bem andar a carruagem. Jadson não é extremo (meia-ponta, winger, ponta...), portanto, sua movimentação é semelhante a Ganso. Para não disputar mesma zona, ambos teriam que, corriqueiramente, trocar de posição. Esta troca dificultaria a marcação.
Por outro lado, Lucas se assemelha muito ao “winger”: atua colado a linha, procura o fundo ou faz diagonais ao centro, só peca em fundamentos defensivos.

Setor defensivo pode ficar sobrecarregado, afinal, Jadson, Ganso e Lucas não são exímios marcadores. Seria pedir demais uma recomposição?

4-4-2 losango

Diagrama tático. 4-4-2 losango com possivel variação para 4-2-3-1.

Segundo imprensa local, 4-2-3-1, citado acima, ou este losango, serão os prováveis esquemas que Ganso encontrara em sua nova casa.

Ao por os olhos nos onze jogadores que compõe este esquema, fica nítido uma possível variação ao 4-2-3-1. Portanto, uma espécie de compensação. Losango usado em fases defensivas e, 4-2-3-1, quando atacando.
Esta variação entre esquemas torna o São Paulo um time mutante, de semelhante modo a: Seleção de Dunga na Copa do Mundo de 2010 com Elano de curinga entre esquemas; Santos de Muricy com o mesmo Elano; Palmeiras de Felipão com João Vitor comandando a variação.

No tricolor, Jadson seria o curinga para possível variação entre os esquemas citados. Com Jadson avançando, Maicon (Denilson, Cicero, Casemiro...) recuaria e alinha-s a Wellington. Ao perder posse de bola, Jadson recua e Maicon avançaria. Losango, não 4-3-1-2.

Ganso regista

Nada mais natural que Ganso honrar o manto que veste e o numero as suas costas. Caso estivéssemos nos anos 70, 60 e, Ganso recebesse a camisa 8, teria de desempenhar tal função, sem piar.

Situação hipotética e utópica. Mas de que são feitos nossos anseios se não de utopias? Abaixo um leve devaneio de, se quiserem assim definir, um mundo paralelo.

Losango com Ganso regendo:

Diagrama tático. Losango utópico? Sim! Ganso como regista ao melhor estilo Pirlo

Paulo Henrique assumiria função de reger uma sinfonia, digno de Beethoven, no caso, um time de futebol. Semelhante a Pirlo, quando no Milan de Acelotti, Ganso teria dois volantes a sua frente para lhe dar subsídios e liberdade, tanto ofensiva, quanto defensivamente. Ganso receberia primeiro passe e facilitaria a transição ofensiva.

Reinventar-se de tal maneira não é da noite para o dia. Ganso precisa de ajuda, tanto tática quando física. Para desempenhar função de regista – não mais que um criador recuado – teria de cumprir dois princípios básicos desta função: MOVIMENTAÇÃO, tanto com bola, quanto sem bola, provavelmente ele não vira a seus pés; MARCAR, ocupar espaço, recompor defensivamente, pois ficar parado assistindo ao jogo de visão privilegiada não será possível.

Com dois laterais extremamente ofensivos, Douglas e Cortez, somados a Ganso na função de “5 regista”, setor defensivo teria grandes problemas.  Para isto, dois falsos meias-centrais, Wellington e Denilson – Maicon, Cicero, Casemiro – para compensar, possível, falta de combatividade do trio.

No losango, Jadson seria o vértice mais avançado do losango. Atualmente é utilizado como 10, mas suas características foge a regra de criador nato.

4-1-4-1:

Diagrama tático. 4-1-4-1 com Ganso entre linhas.

A exemplo do esquema acima, Ganso desempenharia função semelhante. A mudança fica por conta de Jadson e Lucas: Jadson deixaria de ser ponta-de-lança, passaria a atuar como extremo (winger, meia-ponta, ponta, meia-ala...); Lucas passando a jogar no corredor direito como extremo.

Novamente, dois volantes para dar subsidio a Ganso. Porém, diferente. Denilson e Wellington teriam de respeitar um principio do 4-4-2 ingles: Não seriam volantes, mas meias-centrais - Box-to-box – atuando nas duas áreas, como manda o gabarito.

Lucas mais incisivo pela direita, Jadson fazendo diagonal ao centro, abrindo corredor para Cortez.
Tratando de recomposição defensiva, Lucas e Jadson teriam de fechar o flanco e compor duas linhas de quatro ao lado meias-centrais.

 4-2-3-1, Ganso oito:

Diagrama tático. 4-2-3-1 tendo Ganso como "8".

Esquema camicase. Dois extremos de velocidade, Lucas e Osvaldo. Jadson como ponta-de-lança. Ganso legitimo camisa 8. “Apenas” Wellington segurando a barra no setor defensivo. No papel trata-se de uma equipe perfeita, porém, no campo, os problemas devem transbordar.

A dificuldade brasileira em executar o 4-2-3-1 é impar. Não formamos “wingers” e “Box-to-box”, portanto, como executar o 4-2-3-1 com maestria? Impossível. Ofensivamente rebolamos e tiramos leite da pedra, porém, tudo ficaria mais fácil se nossos “volantes” tivessem funções ofensivas e qualidade para tal. Defensivamente, amigo, o olho da gateada “preteia”. O “winger” deve ter funções defensivas: recompor, alinhar com demais, formar dupla com lateral na marcação, dobrar marcação pelo lado do campo, fechar espaço, bascular. Pasmem, Beckham faz isto. Ofensivamente, movimentar-se ser opção de passe, fazer ingressões pelo centro, ir a linha de fundo e fazer dobradinha com lateral.

Ganso atuando nesta posição teria um cão de guarda as suas costas, Wellington. Continuaria sendo regista, armando de trás, mas alinhado a outro meio-campista e com maior liberdade de ir a frente.

4-4-2 quadrado, queridinho do Brasil

Diagrama tático. Nada mais trivial do que dois volantes, dois meias e dois atacantes.

Quase em desuso no Brasil, presente nos campos de várzea e brasileiro por natureza. O 4-2-2-2 brasileiro não poderia ser excluído desta lista.

Porque queridinho? Este, de fato, é o esquema mais brasileiro já visto. Jogo articulado pelo centro, dependente dos meias, volantes trabalhando apenas defensivamente e dois atacantes a frente, um de movimentação outro na referencia.

Segundo imprensa e torcedores, usar deste esquema simplifica o futebol. Porém, ter dois meias pelo centro acarreta consideráveis problemas: meias por dentro freariam apoio do volante; jogo centralizado e meias próximos, “batendo cabeça”; defensivamente, meias por dentro, deixaram o flanco desguarnecido, forçando volantes a caça, consequentemente prejudicando zagueiros; marcação, a exemplo de momentos ofensivos, seria articulado pelo centro, ganha em basculação, mas perde em ocupação do campo.

Com Jadson e Ganso, Lucas e Luis Fabiano nunca passariam fome. O grande problema seria a transição vir de bloco baixo. Os volantes Wellington e Casemiro (Denilson, Cicero, Maicon...) assumiriam esta função.

Opções de encaixar Ganso na maneira de jogar do São Paulo estão caindo de maduro. Cabe a Ney Franco e, o próprio jogador, sentar e conversar.
Independente de esquemas citados acima, Ganso precisa se reinventar. Quem sabe a camisa "8" não o ilumine e Paulo Henrique encontre seu caminho? É possivel.

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4 Responses to Como Ganso pode se reinventar no São Paulo? Que honre a camisa 8

  1. Yan says:

    É bem provável que sejam as duas primeiras formações mesmo. Já que Ganso demonstrou não conseguir jogar em qualquer outra função no futebol. Além de ser complicado o colocar para marcar ou ao menos ocupar espaços. Pra mim, talvez o ideal fosse o colocar na posição da esquerda do losango, tal como foi Ricardinho quando foi para o São Paulo, mas ao menos Ricardinho fechava os espaços. É bem provável que o SP perca muita combatividade no meio de campo!

  2. Giovane says:

    Mais uma aula dada heim Eduardo ???


    Agora falando um pouco da cultura do 10, muitos dizem que é o organizador nato do time, porém outros dizem que em toda a históia, esse cara da articulação era o 8 e o 10 clássico era um ponta-de-lança, segundo atacante que tanto articulava quanto recuava para armar

    Isso me fez realmente refletir, pois se formos pegar os maiores 10 de toda história, é perceptível essa caracteristica de finalizador/passador Maradona, Zico, Cruyff, Platin e Pelé eram passadores fantásticos, mas creio eu que se destacavam da mesma forma por serem goleadores natos.

    Ai tu definiu perfeitamente, o Ganso na minha opinião é um cara indeciso, o 10 tem que ter mobilidade o suficiente para articular, concluir, driblar e chegar a frente, o 8 é um articulador que deve saber recompor a marcação, ao meu ver o Ganso é um "8" em potencial, se fosse educado a marcar, seria um dos melhores segundos volantes do mundo, não tenho duvidas


    Por fim, cito o Barcelona como exemplo, Xavi é o "8" clássico, organizador, regista que começa o jogo de trás e controla as ações do jogo

    Messi é o "ponta-de-lança" o 10 que finaliza, dribla, faz gols e recua para articular

    Concorda com isso Eduardo ??? Será que o conceito de 10 é relativo ???



    Um Abração pra ti e continue dando aula de conhecimentos táticos


    Até mais

  3. Edu says:

    Fico feliz pela discussão no posto. Muito obrigado e as portas estão sempre abertas.

    Perfeito Giovane. Com o passar das decadas, confundiram o camisa 8 com o camisa 10. Creio que muito por avanços taticos, visto que, no Brasil, utilizamos um organizador central que abdica de marcar. Vista erronea e um vicio incontrolavel de formar jogadores assim, mesmo que, a produção de organizadores estancou.

    Novamente acertaste na mosca ao definir Ganso. Ele, digamos, foi instruido erroneamente por Muricy, pois, o treinador o queria perto da grande area para aproveitar sua capacidade de finalização. Mas, Ganso recuado por auxiliar nas transições. Opinião. Mas é inegavel que Ganso precisa de reinventar, não semente em seu "beneficio", mas para o bem da nação futebolistica.

    Abraço.

  4. Edu says:

    Yan. Sim! Ele deve jogar centralizado e um dos dois esquemas citados primeiramente. Concordo com você, em um possivel losango com Jadson e Ganso pelas pontas seria interessante. Quem sabe um 4-3-3 com triangulo de base alta com Lucas e Osvaldo nos flancos? Suicida, mas não custa nada imaginar.

    Acredito que você tocou no "x" da questão. Ganso e seu poder de marcação, recomposição, ocupar espaços, enfim, movimentos defensivos necessarios e imprescindiveis no futebol moderno. Basta saber se sera bem instruido ou irão passar a mão na cabeça dizendo que, craque não marca.

    Abraço.

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