Calamidade rubro-negra


Sem rumo. Dorival não consegue encontrar um norte para sua nau com velas rubro-negras. O marasmo afeta a toda uma tripulação que, aparentemente, não possui forças – qualidade - para reagir. A capitã, Patrícia Amorim, deposita todas suas fichas em um velho pirata, conhecido por todos, mas sofre com rum e excesso de peso. Assim encontra-se o Clube de Regatas Flamengo, a deriva em um mar repleto de tubarões a espera do primeiro tripulante pular, espontaneamente, da tabua. O motim é iminente.

Dorival abandonou seu 4-1-4-1 em fase defensiva para 4-3-3 em fase ofensiva e, contra o Coritiba, adotou o 4-2-3-1, espelhando o Coritiba, mas não encaixando o esquema adversário. Ressalto um 4-2-3-1 estático, carente de compensações, inversões e tipicamente brasileiro, se assim posso dizer. Brasileiro? Sim. Funções em campo bem definidas e executadas com imensa dificuldade. Exemplos: Volantes restringindo a marcação por dentro e não aprofundando entre zagueiros; volante marca, meia ataca, isto resume o meio de campo rubro-negro.

Diagrama tático. Flamengo no 4-2-3-1.

Não há outra maneira de analisar o Flamengo se não por momentos ofensivos. A equipe carioca fechou o primeiro tempo com 63% de posse de bola, segunda etapa com 69%, porém, com jogo lateralizado com excesso de erros.
Organização ofensiva, se é que ela existiu, foi de ataque posicional. A teoria define o ataque posicional como: “Ataque é feito em bloco homogêneo e compacto devido a permanentes ações de apoio e cobertura ofensiva aos jogadores que intervêm diretamente sobre a bola. A complexidade da construção do processo ofensivo deve-se à participação de muitos jogadores e à execução dum grande número de ações técnico-táticas.

A equipe de Dorival Junior não respeitou os preceitos básicos do ataque posicional. O mengão esteve limitado a posição de seus jogadores, não havia combinações entre lateral, winger, no máximo o winger abrindo corredor, infiltrando, deixando corredor livre para lateral, mas esquecendo do mesmo para futura tabela, pivô.

Bloco homogêneo? Impossível. Tanto em fase ofensiva quanto em defensiva.
Ofensivamente o Flamengo mantinha incrível distancia entre setores, isto propiciava a exploração de contra-ataques entre "buracos" dos setores. Estas zonas ficaram claras entre defesa-meio-campo pelos lados do campo, principalmente as costas de Magal.

O Flamengo não teve estratégia clara em sua transição defensiva, pois, wingers não recuavam acompanhando lateral adversário. Volantes marcavam por dentro, não cobriam o flanco, algo usual no Brasil. Volantes não aprofundavam entre zagueiros para força-los a cobrir apoio do lateral. Cobertura ofensiva, citada a cima, foi de suma importância para vitoria do Cotitiba. Não havia cobertura por parte do Flamengo, quando o lateral Magal ia ao fundo, tanto Frauches, quanto Muralha, marcavam pelo centro e deixavam flanco livre para winger e/ou lateral transitar. Alias, Negueba não tinha função defensiva para frear apoio de Ayrton, o lateral passava como queria.

O flagrante abaixo é um claro exemplo do falho sistema defensivo carioca. Magal apoiou e ninguém cobriu seu flanco, tanto Muralha quanto Frauches ficaram pelo centro, ocupando faixa semelhante. Outro erro foi Welinton saindo para dar o bote, novamente, ninguém o cobriu e Frauches ficou sobrecarregado. Ibson deveria aproximar de Rafinha para dar o bote, assim não desencadearia esta pane de coberturas.
O rápido contra-ataque do Coritiba resultou em gol. Não somente neste lance, mas em diversos momentos ficou nítido a "avenida Magal", sem cobertura e transição lenta do lateral ao recompor.

Flagrante tático. No detalhe o "rombo" causado pelo apoio de Magal.

A escalação de Ibson como volante ao lado de Muralha tinha um ideal, interessante, mas naufragou com demais. Ibson seria uma espécie de “regista” – termo italiano para definir um jogador de criação em setor recuado do campo -, porém, Ibson, em má fase, não auxiliou na transição, apenas compareceu para passes laterais e rebote ofensivo.

Léo Moura, Welinton, Frauches e Magal. Circo de horrores formado por quatro palhaços em noite digna de Halloween.
Lei básica da basculação: quando um lateral apoiar o outro deve guardar posição e forçar sobra defensiva com três jogadores, não foi respeitada.
Espelhamento não é encaixe. Dorival propôs um Flamengo no 4-2-3-1, esquema que espelhou o Coritiba, porém, não encaixou. Portanto, com passagem do lateral, somado ao winger, o lateral rubro-negro ficava sobrecarregado, ou seja, 2x1, caso corriqueiro entre Magal x Ayrton e Linconl/Everton Ribeiro.

Momento defensivo dependia de seis jogadores: linha defensiva somada aos dois volantes. Demais jogadores ficavam postados a frente para pegar rebote defensivo e puxar suposto contra-ataque. Porém, este posicionamento avançado de wingers e "criador" Bottinelli - que não articulou nada - favoreceu posse ao coxa.

A segunda etapa contou com o ingresso das promessas Thomás e Adryan no lugar de Negueba e Luiz Antônio. Ressalto que Luiz Antônio, volante, atuou como winger pela direita, cumpriu função de frear impeto do lateral, mas não recuava, se limitava a posição de três quartos do campo.
Com Adryan e Thomás o Flamengo ganhou em velocidade e individualidade, porém, seguiu pecando no coletivo. Os garotos ainda não possuem cancha para um brasileiro. 

Jogada de maior sobriedade ofensiva do Flamengo foi explorar o pivô com Vagner Love. O camisa 99 sabe jogar de costas, porém, lhe era jogada a bola e tinha de se virar sozinho, pois, não havia aproximação para tabela.

Previsível. Flamengo esbanjou posse de bola, mas de maneira controlável pelo adversário, pois, o ataque posicional propicia aumento na fase e construção. Assim a equipe adversária também tem tempo de estabelecer uma organização defensiva consistente.

Os primeiros indícios nos levaram a crer que Dorival encontrará uma solução ao Flamengo, porém, a chegada de maus resultados o devem levar ao mesmo caminho que Vanderlei Luxemburgo e Joel Santana.
Acredito que os culpados têm nome e sobrenome. Contrariando a lógica, não vou botar na conta dos técnicos, mas sim dos diretores e presidenta. O grupo é fraco. 

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