Por André Rocha do blog Olho Tático do GE.com
Não é a fibra que separa a atual geração uruguaia de outras não tão bem sucedidas nas últimas décadas. A Celeste teve garra até quando levou 6 a 1 da Dinamarca na Copa do Mundo de 1986. Tanto que dias depois perdeu apenas por 1 a 0 para a Argentina de Maradona, que seria campeã naquele Mundial do México. Nunca faltou luta.
O Uruguai que conquista a 15ª Copa América tem brio e sua a camisa com honra. Mas vence porque é organizado pelo “Maestro” Oscar Tabárez, conta com lideranças positivas como Forlán e Lugano, que criam um clima de amizade e doação. Principalmente, possui valores individuais de boa técnica, poder de decisão e a tal “química”, conceito difícil de se explicar, mas simples de perceber e sentir. Sem contar o entrosamento de 19 jogadores que estiveram na Copa do Mundo da África do Sul. Fruto de cinco anos ininterruptos de trabalho.
Uma equipe que reservou sua melhor atuação para a final no Monumental de Nuñez. Que nem precisou do pênalti claro que a arbitragem comandada pelo brasileiro Sálvio Spínola não viu logo no primeiro minuto. Toque com as duas mãos de Ortigoza dentro da pequena área após cabeçada de Coates, no rebote da defesa de Villar em golpe forte e preciso de Lugano.
A Celeste marcava à frente, roubava a bola na intermediária paraguaia e dava a bola a Suárez, que deitou e rolou sobre o zagueiro Verón. Inclusive no drible que terminou no primeiro gol. Ao contrário da prática habitual, a seleção uruguaia não recuou para esperar o contragolpe. Foi ainda mais intensa, dinâmica e cumpriu com perfeição a mecânica de jogo do 4-4-2 consolidado ao longo da competição.
Esquema que engoliu o 4-4-2 paraguaio, que variava naturalmente para o 4-1-4-1 com Victor Cáceres cercando Forlán e, para compensar, Zeballos recuando à esquerda para acompanhar Maxi Pereira. Muito mexido e sem Gerardo Martino à beira do gramado, a albirroja marcou mal e não atacou, com Haedo Valdéz muito isolado.
O Uruguai seguiu combatendo no campo adversário. Arévalo Rios tomou de Ortigoza e serviu Forlán. O melhor jogador e um dos artilheiros do último Mundial, que ainda não tinha marcado no torneio continental e perdera chance cristalina em passe perfeito de Suárez, acertou a canhota. Título encaminhado.
Equipes no 4-4-2. Uruguai marcando à frente e jogando com Suárez para cima de Verón; Paraguai acuado, isolando Haedo
Com Estigarribia e Pérez pelos lados num 4-4-2 mais nítido, o Paraguai melhorou na segunda etapa. Aos oito, belo chute de Valdéz no travessão. Mais não fez pela pouca inspiração de um vice-campeão sem vitórias e a infelicidade de Lucas Barrios, que substituiu Zeballos e saiu lesionado minutos depois, deixando seu time com dez homens.
Mas também pela eficiente marcação dos comandados de Tabárez, que recolheu sua equipe, trocou Álvaro Pereira e Diego Pérez por Cavani e Eguren e manteve o controle estratégico da disputa no mesmo sistema de jogo.
No final, contra-ataque de almanaque: De Cavani para Suárez, da cabeça do craque da Copa América 2011 para Forlán, talvez em sua participação derradeira no torneio, tocar na saída de Villar.
Título inquestionável, redenção definitiva do futebol uruguaio. Auge de um grupo raçudo, como qualquer reunião de jogadores do país. Mas, acima de tudo, um time amigo, aplicado, com talento, sintonia, espírito e carisma para voltar a se impor na América do Sul.