Sou fã inveterado do centroavante. Ávido por sua presença no
onze inicial. Mas, toda regra possui sua exceção. O centroavante carece de um
parceiro que o complete. Oras, se ele for alto, rijo e tombador, nada mais natural
que um pequenino, veloz e driblador seja seu comparsa de ataque. Como diz o
ditado: uma andorinha só não faz verão.
Este é o "saca-rolha". Quem desorganiza a defesa adversária. Um mágico. Quem tira os coelhos da cartola.
"Saca-rolha" moderno, pois, o ponta, "saca-rolha" de época, foi crucificado, morto e sepultado. Porém, o intuito segue o mesmo. Driblar, desacorçoar, "arteirizar" - de arteiro, pregar peças - o futebol.
Me pergunto. Como apreciar um bom vinho se não há um "saca-rolha"? Este trabalho "sujo" deve ser feito para se chegar ao objetivo. No caso do vinho, degustação. No futebol, o gol.
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Saca-rolhas moderno. Mas sua utilidade segue a mesma. |
Terceiro colocado no campeonato brasileiro, um ponto de
distancia do segundo lugar. Você estaria satisfeito? Para um clube da
envergadura do Grêmio, não.
O lapso no espaço temporal tricolor de títulos parece não ter fim. A receita de
títulos, antes enraizada nas entranhas do Grêmio, perdeu o cozinheiro, o
tempero não é o mesmo, não há troféus, o jejum perdura mais de uma década.
Será o acaso brincando com a sorte tricolor?
Há dezessete anos, o tricolor dos pampas tinha uma dupla de
impor respeito a qualquer time do Brasil, quiçá do mundo. Paulo Nunes e Jardel.
O diabo loiro e Super Mario – Jardel -, como ficou conhecido em Portugal. Um
completava ao outro. Paulo Nunes endiabrando os adversários com dribles
desconcertantes e Jardel, dentro da grane área, centroavante de carteirinha. Faltava
qualidade técnica a Jardel? Transbordava em Paulo Nunes. O diabo loiro era
pequenino em estatura? Jardel compensava no alto de seus um metro e oitenta e
oito centímetros.
A dupla esta eternizada na historia tricolor, com honras. Bons tempos.
Voltando a dois mil e doze. Nome por nome, posição por
posição. O Grêmio possui um bom time. Não confunda com elenco. Além disto, o
tricolor possui um verdadeiro técnico na casamata. Vanderlei Luxemburgo esta
honrando seu passado. Armou um harmonioso 4-4-2, geometricamente no quadrado,
que colocou a equipe nos trilhos.
O coração de qualquer equipe de futebol, meio campo, é o ponto forte tricolor:
Fernando e Souza na volancia; Zé Roberto e Elano na criação. Meio de campo que
alia juventude e experiência, dosados quase que perfeitamente. Há sempre um,
porém. O ataque deixa a desejar. Quem, em sã consciência, imaginaria que,
Kléber, o gladiador e, Marcelo Moreno, formariam dupla de “ataque” com abstinência
de gols? Tal afirmação levaria o ser ao sanatório mais próximo.
A dupla não esta em sintonia. Estão mais para “tico e teco”, ou seja, batendo
cabeça. A decepção do ano trata-se de Kléber. Chegou com pompa e circunstancia,
mas não esta fazendo por merecer.
O camisa trinta fica mais tempo fora da área do que dentro. Ora bolas. Kléber é
avante! Deve entrar na grande área. Quando perambula, rodeando a grande área, o
faz de costas, fazendo pivô e chamando a falta, porém, torna o jogo truncado,
lento e fornece chance do adversário se postar defensivamente. Kléber,
definitivamente, não é atacante de movimentação. Seu corpanzil não casa com características
de um atacante de movimentação.
Pergunto-lhes. O que Fluminense, Atlético Mineiro, Santos,
São Paulo e Vasco da Gama possuem que o Grêmio não? O “saca-rolha”!
Quando o jogo esta truncado, adversário defendendo atrás da linha da bola,
linhas compactas. Quais suas opções para ultrapassar esta cortina de ferro?
Diria eu, a vitoria pessoal. O drible. A essência do futebol brasileiro. O
drible descongestiona o futebol, rompe barreiras, desorganiza sistemas
defensivos. O Grêmio não o tem. Esta fora da alçada tricolor. Luxemburgo já fadigou
de afirmar, “nosso time é técnico, não habilidoso, há diferenças”. Luxa esta certíssimo.
Em outrora, jogadores de qualidade imensurável no ato de
driblar estavam caindo de maduro. Hoje? Contam-se nos dedos. O futebol vistoso,
arte perdeu para o futebol força. A truculência ganhou na historia e enterrou a
arte. No Brasil, a pá de cal padeceu em 82. O futebol arte brasileiro foi
derrotado pelos brucutus italianos (isto é folclore, uma maneira charmosa e romântica
de contar o futebol).
Preteou o olho da gateada do Fluminense. Quem desafoga?
Wellington Nem! O extremo (ponta, winger, meia-ala...) rompe por um dos lados,
deixa dois ou três adversários para trás e retira cerco a Fred. Deixar Fred “solito
no más”, é assinar atestado de óbito. Deus perdoa, Fred não!
Uma dupla às avessas. Ronaldinho e Bernard. Não há figura de
um centroavante “porreta”. Jô fica na média brasileira. Ronaldinho comanda o
Galo com maestria, mas, por vezes, a marcação chega junto e ofusca a estrela do
camisa quarenta e nove. Quem compensa? Bernard! Semelhante a Wellington Nem,
joga pelas beiradas do campo. No meu ponto de vista, é mais habilidoso. Bernard
é endiabrado, passa como quer pelo marcador.
Ele é de outra turma. Destoa dos demais. Sim! Uma andorinha
só faz verão. Neymar é exceção. O camisa onze do Santos encanta por seu
futebol. Qual o esquema do Santos? Diria, Neymar e mais dez. Muricy armou o
alvinegro praiano voltado a Neymar. Bola no garoto e ele resolve. Tem sido
assim, infelizmente, uma lastima. Não tenho palavras para enquadrar Neymar, impossível
enquadra-lo, provavelmente ele driblaria as linhas e palavras deste texto.
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Neymar! O rei do drible no Brasil. |
Há discussão. Será, realmente, Lucas um grande jogador ou só
mais um velocista? Afirmo, categoricamente que, Lucas será um grande jogador.
Alia velocidade a qualidade técnica. Bem verdade que abusa das capacidades físicas.
A exemplo dos demais, Lucas joga pelas beiradas. Parte para dentro do marcador
e, semelhante ao Fluminense, possui parceiro de dar inveja. Luis Fabiano, o
Fabuloso!
Já foi sonho de consumo do tricolor dos pampas. Éder Luís não
vive grande fase no vasco da Gama, mas já foi essencial na equipe cruz-maltina.
O time do alto da colina esta em decadência. Porém, o Vasco possui este jogador
e, Éder, já provou que é “saca-rolha”.
Perceberam alguma semelhança entre todos “saca-rolhas”
citados? Todos jogam pelas beiradas do campo. Independente do esquema, o
segredo é jogar por faixas onde não há aglomerados e congestionamento de
defensores. Obviamente as laterais do campo favorecem este posicionamento,
pois, o centro possui os grandes marcadores – volantes e zagueiros -, sem
contar que, o objetivo, gol, fica ao centro.
Falta o “saca-rolha” ao Grêmio. O clube não almeja algo
amais pelo fato de não tê-lo. No 4-4-2 quadrado de Luxemburgo o tricolor
agoniza por um driblador. Velocista, não!
Alguém que tira um, dois ou três para dançar. Que abra espaço para os demais. Faço
das minhas as palavras de Diogo Olivier: “São jogadores assim que desmoronam defesas pétreas. Eles mexem na marcação alheia, desencaixando as peças do ferrolho e abrindo espaços.”.
Para dois mil e treze, o Grêmio clama por avante que,
segundo Olivier, ziguezagueie na direção do gol.