As faces do Inter em Santos

Era difícil acreditar em o que meus olhos enxergavam. Aliás, dois enigmáticos acontecimentos. Primeiro que Dorival Junior parecia estar sendo Muricy, e Muricy parecia estar sendo Dorival, os papeis se inverteram. Segundo, o garoto Neymar simplesmente acabou com o jogo, dois golaços, e ate agora Rodrigo Moledo esta procurando o craque da Vila.

O ferrolho defensivo de Dorival Junior não tinha explicação. Imaginava-se que os três volantes escalados por Dorival fossem marcar Ganso e Neymar individualmente. Amigos, na coletiva o treinador colorado disse que não há como marcar Neymar. Concordo, mas pode-se tentar, ou estou equivocado?

Dorival armou o famoso esquema arvore de natal, pois seu desenho se assemelha a tal. Os presentes vieram trocados, ao invés do Inter aprontar, foi o Santos que “presenteou” o colorado. Neste 4-3-2-1 extremamente centralizado, o Inter se absteve a “tentar” parar o Santos, a cortina de ferro no primeiro tempo se desfez no segundo e os espaços para Neymar apareceram.


A equipe gaucha estava com imensas dificuldades de sair jogando. A linha defensiva presa, o tripé de volantes frente à mesma, não dava apoio à dupla de meias. Para tentar sair jogando, Oscar, D’Alessandro e Damião tinham que se virar como podiam, ora jogando de costas, ora vindo buscar o jogo. Todas tentativas sem sucesso.

Neste esquema com três volantes esperava-se que Elton iria grudar em Neymar, ser um irmão siamês. Não foi assim. Elton e Nei alternavam na marcação, dependendo de onde Neymar estava, mas ninguém o perseguia pelo campo. Com este tripé de volantes centralizado, o Santos abriu seu losango e o Inter não conseguiu encaixar a marcação. Arouca vindo de trás, Ibson abrindo na direita, Ganso ao centro, Neymar com intensa movimentação e ainda os laterais fazendo passagem.

O Inter tinha clara e evidente sua filosofia neste jogo. “Vamos estacionar um caminhão frente ao nosso gol, nesta noite nada irá passar”, o time retraído e sem saída de bola sofreu um massacre. Damião assistia ao jogo sozinho e sem parceria. D’Alessandro e Oscar nada fizeram, a parceria que teoricamente viria de trás não existiu.

Flagrante tático do Inter no 4-3-2-1 arvore de natal.

Elton teria de ser um coringa neste esquema. Deveria fazer função de volante sem bola, e com a redonda avançar formando um 4-2-3-1. Na teoria interessante, mas na pratica tudo foi por água abaixo. Elton não passou, os laterais pouco apareceram e para piorar, o Inter recuava e chamava o Santos para seu campo.

As tentativas coloradas de ataque sempre se davam na direita com Nei ou Elton. Simplesmente pelo fato do Santos ter neste lado, Juan, Arouca e Neymar. Claramente o espaço estava ali, mas como explorá-lo não é fácil.

Dorival pensou certo em como parar o Santos. Colocou um 4-3-2-1 para encaixar o 4-3-1-2 do Santos. Compreensível, mas aparentemente não contava com a variação alvinegra para o 4-2-3-1 ou 4-1-3-2. Os lados do campo ficaram sobrecarregados e sobraram jogadores para marcar Ganso, faltou alguém em Neymar.

Com desvantagem no placar o Inter precisava mudar, e assim Dorival fez no intervalo. Sacou da equipe Elton e colocou Datolo. O 4-3-2-1 passou para o habitual 4-2-3-1. Meio de campo com Guiñazu e Bolatti na volancia, Datolo como winger na esquerda, D’Alessandro ao centro e Oscar na direita.

Flagrante tático do Inter no 4-2-3-1.

D'Alessandro atuaria na sua como armador central, Datolo e Oscar nos flancos forçando para cima dos laterais e recuando para recomposição defensiva. O maior problema se tornou na transição defensiva, lenta e novamente cedendo espaços.

A mudança parecia surtir efeito, pois o Inter começava a se postar no campo do Santos e por ali trocar passes. Logo aos 4 minutos, Leandro Damião por pouco não marca em cruzamento pela direita.

Para toda ação, existe uma reação. O Inter saía de trás, adiantava suas linhas e conseqüentemente deixou espaço para o Santos jogar. Dar espaço para uma equipe que conta com Neymar e Ganso é suicídio, mas era necessário sair deste ócio ofensivo.

Na equipe do Internacional existe um buraco negro. Zagueiro – Moledo -, lateral – Nei – e volante – Bolatti - não conseguem interagir entre si na marcação. Sempre existe um espaço para o adversário jogar. O sistema de cobrir passagem do companheiro ou compensação defensiva parece não existir. Agora imaginem este buraco negro situado logo onde joga Neymar, foi um abraço.

Trecho do globo esporte: “Aos 9 minutos, em velocidade, Neymar pegou a bola ainda no meio-campo, fez fila em Bolatti, Guiñazu e Rodrigo Moledo antes de colocar a bola por cima de Muriel com um toque de mestre.”
Aproximadamente aos 12 minutos o Santos já contabilizava 11 chutes a gol, o Inter contava com apenas um, sim, um misero chute em gol. Isto bastava para resumir o jogo.

Os contra-ataques seguiam, o Inter tentava achar no jogo uma possível reação, aconteceu com Leandro Damião aos 18 minutos. Trecho do globo esporte: “Leandro Damião, então, deu uma mostra de que mesmo apagado pode ser decisivo. Depois de Oscar tirar de Rafael e cruzar da esquerda, o centroavante teve tranquilidade para apenas escorar e diminuir a desvantagem do Colorado, aos 18 minutos.”

Não irei pregar a violência, apenas vou “jogar” com o regulamento por baixo do braço. É proibido fazer falta? A regra é clara, está na lei que a falta é um recurso do jogo. Se esta no regulamento, porque Moledo e os demais não encostavam em Neymar? Não precisa parti-lo ao meio, mas tentar pará-lo. Caso o desarme não aconteça de forma limpa, não será feio fazer a falta.

Dorival já havia novamente trocado em suas peças. Tinga entrou no lugar de Bolatti e Dagoberto no lugar de D’Alessandro. Para felicidade geral e infelicidade colorada esta mudança de Dorival “abriu” o Inter ainda mais. Tinga não se alinhou a Guiñazu, o esquema variava entre o 4-1-4-1 sem bola e 4-1-3-2 com a mesma.

Flagrante tático do Inter no 4-1-4-1, ora 4-1-3-2. Dagoberto fazia pendulo entre meio de campo e ataque, assim essa variação de esquema acontecia.

Com estas alterações, Tinga foi mais incisivo e se postava ofensivamente no campo, teria como instrução fechar a passagem do lateral. Dagoberto foi o elo entre variação do esquema. Guiñazu ficou solitário frente a zaga. Novamente a transição defensiva deixou a desejar, poucos auxiliavam Guiñazu e os demais na marcação.

A aparente recuperação do Inter não durou dois minutos. Novamente Neymar e o lado direito defensivo colorado. O atacante conseguiu fazer outra obra de arte, semelhante à primeira, mas desta vez deixando Rodrigo Moledo como uma barata tonta. Quando chegou frente à Muriel, Neymar o encobriu. Golaço.

Não serei hipócrita em afirmar que esta derrota deve ficar de exemplo que o 4-3-2-1 é sinônimo de derrota ou ser execrado, os três volantes não devem ser colocados na gaveta. O importante não é quantos jogadores se escala a frente, mas sim quantos chegam à mesma.

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