Antes do gol havia o drible

Texto de Carlos Gomes, originalmente do blog: Futebol de Bolso

I

O dri­ble está para o fute­bol assim como a poe­sia está para a prosa.

II

Neymar e Messi estão na moda, por­tanto, o dri­ble. O pri­meiro impro­visa com o movi­mento das per­nas, pas­sa­das, velo­ci­dade, o que não con­se­gue impro­vi­sar com tanta faci­li­dade quando fala, quando arti­cula pro­sear com a imprensa, com o público. Vender ima­gem com ima­gem, somente, não com pala­vras. O segundo está mais pró­ximo de Garrincha, de Maradona; ambi­ci­ono misturá-lo com ambos. A repe­ti­ção de lan­ces imar­cá­veis do pri­meiro, o toque de geni­a­li­dade, sur­presa, acaso, do segundo.

III

Um lance de dri­bles é uma explo­são de acasos.

IV

A poe­sia car­rega a abs­tra­ção, a curva, a melo­dia dos ver­sos, o drible:

As per­nas entrelaçam-se umas nas outras, um corpo só, mem­bros em pura vibra­ção. O vento confunde-se com a velo­ci­dade dis­tinta. Os olhos revezam-se entre os olhos do adver­sá­rio e os movi­men­tos impre­ci­sos da esfera. Todos os olhos ao redor, pela tevê, até os olhos dos ouvi­dos nos rádios – os olhos da ima­gi­na­ção –, todos aten­tos a ação que se forma impre­vi­sí­vel; e quando todos olham para um lado, a esfera vai pro outro, o corpo para um ter­ceiro, e assim o tri­ân­gulo está for­mado: o drible.

This entry was posted in . Bookmark the permalink.

Leave a Reply

Compartilhar