O 4-1-4-1 colorado representado em seus "carrilleros"

Abel idealizou e montou o Inter como imaginava, ou, apenas respeitou seu histórico, o DNA de Abel não engana, ele monta times com vocação ofensiva. Que gostam de trabalhar a bola no pé e ditar as ações de jogo. E para controlar o jogo o treinador optou pelo 4-1-4-1, com meio-campo recheado de “tocadores de bola”, sendo eles: à frente da zaga Willians, quem inicia a organização; os meias centrais Alex, à esquerda, e Aránguiz, à direita; pelas beiradas do campo D’Alessandro pela direita e Alan Patrick à esquerda, ambos de pé trocado.


O ônus de ter jogadores técnicos e que saibam rodar a bola é não ter justamente o contrario: o ‘saca-rolha’ - são jogadores que desmoronam defesas pétreas. Que ziguezagueie na direção do gol. Eles mexem na marcação alheia, desencaixando as peças do ferrolho e abrindo espaços.
E claramente não há este jogador na equipe titular. A esperança é que Otavinho reencontre o futebol de 2013, ou Valdivia assuma o protagonismo de ser este ‘saca-rolha’.

A carência deste ‘ziguezagueador’ resulta que o Inter não aproveita o espaço deixado pelo adversário. Quando desarma, cadencia o jogo e inicia a transição ofensiva rodando a bola com segurança, mas sem verticalidade.

Se não há figura de um velocista na equipe do Inter, saltam aos olhos dois jogadores de suma importância na execução do 4-1-4-1 colorado: Aránguiz e Alex. Os meias-centrais da equipe. Coadjuvantes no time do protagonista D’Alessandro que garantem a dinâmica ofensiva da equipe. Atuam de maneira curiosa, seriam os ditos ‘motorzinhos’ da equipe. Aránguiz pelo lado direito e Alex pela esquerda. Na compreensão sul-americana de futebol seriam os ‘carrilleros’, na Inglaterra ‘box-to-box (box-to-box é uma referência ao jogador que faz, no meio-campo central, o "vai-vem". Box significa área, em inglês, portanto a tradução é "de área a área". A definição é claríssima: o jogador que sem a bola posiciona-se defensivamente à frente da própria área, e quando a equipe recupera a bola aproxima-se dos atacantes, nos arredores da área adversária. Atuar nos dois campos é prerrogativa básica desta tática individual.).

A definição de box-to-box fica ainda mais clara quando analisamos os mapas de calor (que registram os espaços ocupados pelos jogadores enquanto eles tiveram a bola) de Aránguiz e Alex.

A intensa movimentação de Alex, partindo do centro e aparecendo nas mais variadas áreas do campo.

Aránguiz marcando o 'trilho' no campo: do ataque à defesa.

É nítida a movimentação da dupla por grande faixa do campo. Ambos realizam o vai e vem e garantem o suporte ofensivo aos wingers (D’Ale e Alan Patrick) e defensivamente recuam se postando à frente de Willians. E essa movimentação desconstrói qualquer argumento que o Inter atua com apenas um volante e seu sistema defensivo é frágil. Pelo contrario. A função de meia-central (box-to-box, carrillero...) é atuar nas duas áreas, é dar apoio nas duas fases de jogo (ofensiva e defensiva).

Outro trabalho realizado pelos meias-centrais é criar as tais triangulações pelas beiradas do campo que Abel tanto ressalta. Pela direita o trio é composto por: Gilberto mergulhando para a linha de fundo, Aránguiz pelo centro, e D'Alessandro, de pé trocado, realizando diagonal para organizar e abrindo corredor para passagem do lateral. Pela esquerda a base estratégica é a mesma, mas formado por: Fabrício, Alex e Alan Patrick. Porém, nestas triangulações, a dinâmica entre estes jogadores é confundir o adversário, portanto, há intensa troca de passes e posição. Não se surpreenda de Aránguiz aparecer pelo flanco e Gilberto fazendo diagonal enquanto D'Alessandro fique mais recuado.

O inicio de trabalho de Abel Braga é promissor. A equipe demonstra as ideias do treinador na pratica. A característica de um meio-campo dinâmico, com movimentação e aglomerado de jogadores criativos, com qualidade no passe é nítido e cristalino. Porém, a transição ainda é uma dor de cabeça. Se os meias-centrais auxiliam nas fases ofensivas e defensivas, ambos deixam a desejar quando o assunto é iniciar as jogadas. O trabalho fica a cargo de Willians – combativo e voluntarioso, mas limitado tecnicamente -, e com isso há dificuldade em dar objetividade a posse de bola que salta aos olhos. Abel precisa rever o espaçamento entre Willians e a linha de meio-campo à sua frente. O Inter precisa transformar o volume de jogo em chances de gol. E quem sabe a solução não esta nos pés dos meias-centrais? Alex e Aránguiz recuando e auxiliando Willians na organização? Independente da solução, sabe-se que o primeiro passe precisa ser de qualidade para fundamentar todo um processo de criação. Que Abel tire mais um coelho da cartola.

Obs: mapas de calor retirados do Footstats

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