Mano opta por 4-2-3-1 sem 9 de origem

Treino de luxo. Mas não muda o objetivo: convencer. Diante do fraco Iraque, a seleção de Mano Menezes não perdoou a seleção treinada por Zico. Patrolou e não tomou informações do adversário. Um sonoro 6x0.

Os holofotes estavam sob Kaká. Esta é a volta de um dos queridinhos do Brasil. Seu ultimo jogo foi à amarga derrota contra a Holanda na Copa do Mundo de 2010. Se na Copa Kaká foi referencial técnico, centralizado, de um 4-2-3-1 torto e repleto de compensações, na atual seleção de Mano, Kaká deve ser a experiência em campo no mesmo 4-2-3-1, porém, jogando pelo lado e com jovens companheiros.A filosofia imposta por Dunga é o extremo do que Mano Menezes prega. O sistema é o mesmo, mas as estratégias de jogo retratam oceanos de diferença.


Tratando de esquemas adotados, Mano esta indeciso entre 4-4-2 em duas linhas e 4-2-3-1, o criador e criatura. Ressalto que, 4-2-3-1, criatura, surgiu do 4-4-2 em duas linhas, criador, quando, extremos (winger, ponta, meia-ala...) avançaram e um dos atacantes recuou.
No caso do Brasil os extremos foram Kaká e Hulk, Oscar meia pelo centro e Neymar o avante. Em outrora, Neymar era quem regia a sinfonia para variação entre 4-2-3-1 e 4-4-2 em duas linhas, hoje Oscar comandou escassa variação.

Flagrante tático. Brasil postado no 4-2-3-1.

Não se pode fazer outra analise se não for com Brasil no 4-2-3-1 com bola nos pés, ate porque, Brasil teve média superior a 60% de posse de bola.
Neste esquema, a trinca de meias trata-se do coração de equipe. É impraticável jogar no 4-2-3-1 com meias estáticos e com movimentação preguiçosa, sem contar as funções defensivas.
Esmiuçando a trinca:
- Oscar: Diferentemente de outros carnavais, Oscar atuou centralizado e com movimentação do meio para frente, três quartos do campo, não teve movimentação padronizada de recuar e organizar.
Inversão de papeis com Neymar e Kaká. A leitura tática de Oscar oferece ao treinador diversos movimentos padrões para compensar certas movimentações. Uma delas é quando, Neymar, naturalmente, sai da área e Oscar logo se dispõe a ocupar espaço do camisa onze, a fim de não deixar buracos e manter esquema base.
- Kaká e Hulk: Ambos atuaram de pés trocados – destro na esquerda e canhoto na direita – com intuito de abrir corredor para lateral fazer ultrapassagem.
Kaká não ficou preso pelo flanco esquerdo, corriqueiramente aparecia no centro ou ao lado de Hulk.  Troca de posição entre Oscar foi essencial para dinamizar o setor de criação. Confesso que estava incrédulo quanto a capacidade física de Kaká, porém, atuou com certo sucesso como extremo, posição que requer capacidade física nos trinques.
Hulk atuou como se estivesse no seu antigo clube, Porto. Aberto pelo flanco direito com movimentação padronizada quando recebe a bola: corta para dentro, abre corredor e consequentemente gera um leque de opções para jogada – passe, chute, lançamento. Porém, em comparação aos demais, ficou mais estático e preso a sua zona do campo.

A movimentação ofensiva mais clara e evidente foi utilizar os extremos de pés trocados a fazerem diagonais e abrir corredor para passagem dos laterais. O corredor, melhor, avenida, estava à disposição dos laterais, porém cruzamentos a área não eram melhor opção. Para cruzar o ataque tinha de ser posicional e com sucessiva troca de passes e infiltração dos meias a grande área, pois Neymar não é “9” de imposição e cabeceio.

Por ter mais de 60% de posse de bola, a seleção jogou com ataque posicional e tendo que criar a abrir espaços na defesa do Iraque. Com trinca de meias mais a frente e não participando das zonas inicias de criação, zagueiros e volantes assumiram a transição ofensiva. Tanto David Luiz quanto Thiago Silva comandaram a incessante troca de passes na linha central. Já, Paulinho e Ramires aceleravam o jogo para os meias.

Reparem o frame abaixo. Brasil iniciando transição em zona de organização de jogo baixa. Zagueiros e volantes é quem executam inicio ofensivo. Laterais aproveitam estreitamento dos meias para ocupar corredor. Meias próximos deixam o lado com laterais e aproximam entre si e de Neymar para tabela.

Flagrante tático. Brasil no 4-2-3-1 iniciando transição ofensiva. No detalhe: laterais avançados. Reparem que meias estão próximos e bloco do meio campo dividido em dois: volantes próximos dos zagueiros e meias em aproximação a Neymar.

Falando de Neymar, aproveito para elucidar que nosso camisa onze não foi “falso-9”, talvez pretendesse. “Falso-9” não é um atacante leve, de movimentação, que é posicionado solitário à frente, é mais do que isso. Esta posição surgiu dos pés de Messi, decorrente de sua movimentação, mas, com o tempo, banalizaram o “falso-9”, delegam a qualquer atacante franzino esta denominação. Ultrajante.
Eleito para ser o único avante à frente, a joia santista foi estrela solitária do ataque, em compensação, meio campo brilhou como um todo.
Esta readaptação de Neymar serve de aprendizado a nosso diamante bruto que, deve ser lapidado. Neymar não pode ficar preso a um palmo de terra, por melhor que possa ser neste canto. Serve de aprendizado e palmas a Mano pela iniciativa.
O garoto não conseguiu jogar de costas para o gol, movimentação essencial para “centroavante”. Suas grandes jogadas foram com arrancadas partindo de trás e tabelas quando marcação estava frouxa.

Enfim, o embate entre Brasil e Iraque acentuou a diferença entre ambos. Amistoso digno de David e Golias, porém, o pequeno David não demonstrou sucesso perante o gigante Golias.
A tônica do jogo: futebol consolidado brasileiro versus rascunho de esporte praticado na grama com objeto esférico. 

This entry was posted in . Bookmark the permalink.

2 Responses to Mano opta por 4-2-3-1 sem 9 de origem

  1. Grande Edu!

    Vou colocar aqui o que já coloquei no texto do Victor.
    Até pq as ideias são de cunho semelhante.

    Edu,
    quero desde já parabenizá-lo pelo excelente texto.


    Caro amigo Edu.

    Não pude assistir ao jogo. Vi o VT depois. Claro que era o Iraque. Mas hoje a Inglaterra levou mais de 30 minutos para fazer gol em San Marino. Enfim...esse jogo teve como aspecto fundamental a volta do kaká.

    Assim que assisti ao VT, lembrei de Colômbia 1x2 Brasil, em 2003, pelas eliminatórias para a copa de 2006. O Oscar do jogo de ontem foi o Kaká de outrora. Incrível a semelhança. A chegada em gol. A facilidade em alternar posições.

    Eu, sinceramente, não me preocupo com o Kaká pela esquerda. O Oscar fez essa marcação por ele na hora da marcação. Não quis dizer que o Kaká não marcou. Mas que o Oscar o auxiliou. Eu quero ver em um teste de grande porte como vai ficar essa questão.

    O Kaká, como nos tempos de Milan, deu opção ao seu atacante (Neymar) fazendo o chamado "facão". Neymar pegava na bola, Kaká atraia a atenção dos marcadores e os puxava para a esquerda. Prova disso foi no segundo gol do Oscar.

    O tempo que nós temos é o mesmo tempo que outras seleções vão ter. Claro que algumas já avançadas. Mas tirando Espanha e Alemanha, poucas são as que já possuem algo concreto. Fiz esse relato em meu blog.

    O Hulk pela direita fica preso. Um "Robinson Crusoé" da vida. Eis que vem a questão tática. Repito: era o Iraque. Quando o Paulinho ia, os laterais faziam a cobertura de forma perfeita. Quem mais apareceu dos dois laterais? Pensamos no Marcelo, né? Não! Foi o Adriano. Já que pelo lado esquerdo o Brasil já tinha munição suficiente. Isso não quer dizer que o Marcelo também não fez o seu papel ofensivo.

    Eu ainda sou cético quanto a recomposição da marcação contra equipes mais acentuadas. Mas isso é algo de entrosamento, conversa e repetição. O máximo entrosamento também falha (vide F. Melo e J. Cesar).

    Vi muita movimentação. Kaká pelo meio, Oscar caindo na esquerda e Neymar abrindo espaços para as chegadas do Ramires. E mais uma vez: era o Iraque.

    O teste serve, e muito, para recolocar o Kaká no centro das atenções e ajudar os garotos. A confiança, tendo um exemplo de jogador ao lado, dá mais confiança. Não podemos dizer que não. Dá sim! O Kaká buscou as jogadas, abriu opções e em alguns momentos organizou o time em campo.

    O 4-2-3-1 com o "falso 9" pode não ser um esquema ideal. Mas a copa só dura 30 dias. E se em 30 dias o esquema estiver em momento iluminado? De momento, acho que o Neymar precisa ser lapidado no esquema. Se o Mano acha que é com isso que vai jogar, não pode alterá-lo nas próximas convocações.

    Me agrada muito mais o último quadro. Porém, o kaká tem essa característica de cair pelo lado esquerdo. Em 2010 o "dono" era o Robinho. Mas como não lembrar do jogo diante da Costa do Marfim?

    Muitos tentam dizer que não temos uma boa geração. Temos sim. Mas é preciso dar segurança aos jovens. O tempo não para. E a seleção precisa encontrar o caminho e seguir nele para buscar o entrosamento até a copa de 2014.

    Abraços!

  2. Edu says:

    Grande Raniery.

    Concordo integralmente com você. Essa do “facão” é novidade, já conhecia, mas não por este nome. Agora Neymar tem com quem dividir responsabilidade e marcação. Com Kaká em campo os adversários se preocupam em dobro.

    Essa do tempo é perfeita. Voce já tinha dito antes no grupo pelo Facebook. Seleção é momento e deve ser planejada como tal. Hoje, Mano escala o que tem de melhor e deve continuar assim na Copa. Claro que divergimos em uma ou outra peça, mas é minimamente.

    Movimentação do Hulk me cansa. Porém, ele joga desta maneira e convence assim. Da esquerda para o centro e chutando forte.

    Novamente você chama atenação para um ponto crucial desta seleção. Recomposição, transição defensiva. Acredito que Mano esta com a pulga atrás da orelha quanto a estratégia a ser adotada. Ele já testou o pressing ou contra-ataque. Acho que ele deveria criar um padrão, visto que, a base deve ser mantida para 2014: Thiago Silva, Dedé/David Luiz, Marcelo, Daniel Alves; Oscar, Neymar, Ramires... Enfim, alguns parecem ter lugar cativo na seleção. E tem a turma que merece: Hernanes, Luiz Gustavo, Fred. E ainda aposto em Ganso e Lucas Leiva.

    Quanto ao 4-2-3-1, Mano parece não abrir mão. Como você citou, se estiver em momento iluminado, vamos brigar nas cabeças.

    Tenho que me cuidar para não fazer terrorismo, pois, Brasil nao demonstra futebol vistoso, mas não foge das demais seleções. É momento, porem, adversários de nível questionável nos fazem duvidar do poderio tupiniquim.

    Novamente concordo com você. Temos uma boa geração, sim! Porém Mano levou serio demais o papo de rejuvenescer a seleção e aposentar os experientes. Se perdeu no meio do caminho e agora esta tentando reencontrar o trilho dos trens compensando seu erro anterior.

    Abraço e obrigado pela participação Raniery.

Leave a Reply

Compartilhar