Rapidinha: Grêmio na Libertadores

Você, católico, imagine enfrentar o time do homem mais próximo de Deus na terra. Papa Francisco é torcedor declarado do San Lorenzo, e coube ao Grêmio essa ingrata função. Soma-se a isso a torcida apaixonada do San Lorenzo e a qualidade do time. Tarefa difícil para o tricolor.

No plano tático, Enderson abandonou o 4-4-2 em duas linhas e voltou a aderir ao 4-1-4-1. Zé Roberto, de versatilidade ímpar, propiciou a mudança de esquema. Se contra o Atlético-PR o camisa dez atuou como meia-atacante, na noite de quarta-feira compôs o meio campo ao lado de Ramiro e a frente de Edinho (formando uma espécie de triângulo de base alta). Pelas beiradas do campo Dudu e Riveros compunham o restante do meio campo. Na teoria, Zé deveria articular a saída de bola tricolor com cadencia e qualidade no passe; na pratica, a marcação argentina não deixou o Grêmio respirar e Dudu foi o desafogo para articular as tramas ofensivas.

Tricolor postado no 4-1-4-1 com Dudu mais agudo e buscando mais o jogo.

- Léo Gago

Diz o ditado popular: “Jogar com um jogador improvisado é como dizer: Voa ovelha, mas a ovelha não vai voar”.
E no que se encaixa esse ditado? Improvisar jogadores (o improviso se agrava quando o improvisado não detém qualidade na sua posição de origem, quiçá fora dela).

Devido à ausência de Wendell, lesionado, restou a Enderson Moreira duas opções: improvisar Léo Gago na lateral, ou escalar o jovem Breno, de atuação irregular contra o Atlético-PR; Enderson optou pelo experiente Léo Gago.
Experiência esta que não entrou em campo. Volante de origem, Léo Gago apresentou grande dificuldade de se habituar a lateral esquerda.
Talvez falta-lhe o cacoete de jogar rente a linha, saber onde e como se posicionar, ler o jogo e saber dosar incursões no campo adversário ou manter-se ao lado dos zagueiros. Uma série de detalhes que, caso os dominasse, certamente seria lateral.

Por sua vez, o San Lorenzo soube explorar a fragilidade de Léo Gago. Esquematizado no 4-4-2, com dois pontas espetados, o time argentino insistia pelas jogadas de flanco, e pelo lado direito (esquerdo de defesa) Villalba importunava Léo Gago. E, tamanha insistência, resultou no único gol da partida. Descuido de Léo Gago ao recompor linha defensiva desorganizou a defesa tricolor (que teve de bascular: Geromel teve de sair do miolo central para cobrir Gago, Werley deslocou-se para ocupar o espaço deixado por Geromel, e, por fim, Pará cobrindo Werley). O efeito dominó atrasado em décimos de segundo, o suficiente para sair o gol do San Lorenzo.
Mapa de calor da posse de bola do San Lorenzo. O mapa é nítido e cristalino: A equipe argentina explorou e martelou as costas do frágil Léo Gago. 


- Geromel

Contratado sob grande expectativa, Geromel se tornou um grande ponto de interrogação. Não sabia-se do porque não ser aproveitado, apesar do baixo nível técnico de Werley, permanecia uma incógnita, até a lesão de Rhodolfo. O jogo contra o Atlético-PR serviu como teste para saber quem substituiria Rhodolfo. No páreo pela quarta zaga deu Geromel, com sobras.

Sem Rhodolfo e Wendell o lado esquerdo defensivo estava fragilizado. E após o apito inicial as coisas pioraram. Como citado no tópico anterior, Léo Gago não se habitou a lateral esquerda. E coube a Geromel cobrir o espaço deixado pelo lateral. O zagueiro foi seguro defensivamente e compensou a fragilidade de Léo Gago.

Rhodolfo deve parar por três semanas, sem dúvida alguma seu substituto é Pedro Geromel. 

Mapa de calor apresenta as áreas por onde Geromel mais circulou. Em vermelho a área onde o zagueiro marcou presença constantemente, reparem o quanto Geromel esteve no lado esquerdo de defesa, cobrindo eventuais subidas de Léo Gago e bolas as suas costas.

- Setor ofensivo

Não seria exagero algum se esse tópico não tivesse palavra alguma. Durante boa parte do primeiro tempo o “abafa” do San Lorenzo anulou o Grêmio. Era o tricolor tomar posse da bola e logo devolve-la ao time argentino por meio do chutão. A ausência de lucidez na transição resultou na ligação direta como primeira opção para “construir” (leia-se livrar-se da bola). Era um bate-volta constante, beneficiando o time do San Lorenzo que, jogando em casa, tinha de atacar.

O desafogo surgiu com Dudu pelo lado esquerdo do campo imprimindo velocidade e mergulhando no campo adversário com verticalidade, o meia utilizava-se da vitoria pessoal para desarrumar a marcação adversária e assim levar o Grêmio para o campo de ataque. Eis a tônica do jogo explorado pelo Grêmio: Dudu como válvula de escape.

Ressalta-se que Zé Roberto enfim assumiu o papel que lhe cabia, ou seja, auxiliar na saída de bola e brecar as constantes rifadas de bola.  Além do auxilio na organização das jogadas, Zé começou a aparecer na frente, aliado a Ramiro, e juntos brigavam pela segunda bola no campo de ataque, ação inexistente nos momentos de abafa da equipe argentina.

Após o gol do San Lorenzo, Enderson mudou. Porém, a lapso criativo teimou em continuar. O Grêmio simplesmente não criava. Torrico não sujou as luvas. O clube gaucho movimentava a energia de uma usina nuclear para acender um palito de fósforo.  

Ainda restam 90 minutos. A presença do torcedor será de suma importância, porém, o futebol demonstrado dentro de campo será determinante. Em uma semana Enderson precisa arrumar a casa e de alguma maneira tornar esse time eficiente, afinal de contas, o Grêmio precisa de dois gols para passar de fase (ou apostar nos pênaltis).

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